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sexta-feira, 16 de abril de 2010

AJUDAR OS RICOS EM NOME DOS POBRES

A ainda recente tragédia das inundações na Madeira e o enorme movimento de solidariedade nacional que conseguiu angariar vários milhões de euro para a reconstrução de muitas habitações de famílias desalojadas faz-nos pensar como esta situação diferiu em muito do apoio que também a nossa população deu para a tragédia do terramoto no Haiti.

Independentemente dos valores para uma e outra situação, todos conseguimos de alguma forma identificar como o apoio prestado à Madeira teve impacte na população Madeirense. Por exemplo, tivemos a informação de que os apoios obtidos da população por via de uma estação de televisão foram suficientes para reconstruir doze casa numa determinada área afectada pelas enxurradas, onde ficaram outras tantas famílias desalojadas. Todo o dinheiro, fazendo a conta entre o valor total e o número de habitações, respectivamente de um milhão de euros para doze casas, parece ter chegado ao seu destino.

O mesmo não poderemos dizer do apoio dado para o Haiti. Uma grande percentagem dos donativos angariados em Portugal, como no resto do mundo, foi consumida com custos de logística e de gestão. Geralmente menos de 50% dos donativos chegam às populações necessitadas, existindo casos em que apenas uma pequena percentagem, pouco acima dos 10% consegue atingir o objectivo principal.

Pelo meio ficam os custos com a aquisição de bens em países ricos e produtores dos mesmos, com logísticas complicadas de transporte aéreo e marítimo, com direitos alfandegários, com custos de gestão na origem e no destino, bem como com desvios e roubos ao longo de todo o processo e percurso.

Este é um dos principais dilemas para quem ajuda nestas situações. Nunca se sabe onde é que o dinheiro fica ou chega.

Contudo, como no caso da Madeira, em que o dinheiro vai directamente para os beneficiários, sendo que os custos de gestão, de logística, de transportes, de taxas, etc. ficam reduzidos a zero ou lá muito perto, os donativos tem quase 100% de efeito.

Esta comparação, apesar de pecar por falta de fundamentação mais profunda, trás ao de cima a principal diferença entre apoiar um país rico ou um país pobre, em caso de calamidade ou desastre.

No primeiro caso, o dinheiro vai ajudar o país visado, contribuindo de forma directa também para a economia do mesmo. No segundo caso, o dinheiro vai para os países que enviam os bens, ajudando a economia destes, sendo que o valor dos mesmos bens é fortemente reduzido em relação ao valor dos donativos.

O cepticismo de uma grande parte da população dos países ricos com propensão para doar em caso de calamidades e desastres é fundamentado pela desconfiança de que o seu apoio vai para os mais ricos e não para os mais pobres, apesar de muitos, estupidamente, quererem fazer crer que é o contrário.