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segunda-feira, 2 de julho de 2012

À procura de um desígnio nacional


A auto-estima do nosso povo parece andar por níveis nunca antes conhecidos. A crise económica que se instalou depois de termos vivido uma época de fartura virtual, a pedofilia que eclodiu de entre os nossos tão brandos costumes, a criminalidade que continua a crescer por entre uma nossa tão declarada atitude pacifista enquanto a justiça teima em andar por campos longe da compreensão dos humildes, o desemprego que alastra por via da falta de competitividade do nosso tecido empresarial quando ainda reclamamos a ajuda eterna do governo por tudo e por nada, e muitas outras coisas, colocam a nossa auto-estima bem em baixo.

Então voltamos os nossos desejos para a conquista de feitos desportivos. O título de campeão Europeu, para muitos de nós, só podia ser nosso. Nem pensamos noutra possível saída. É preciso vir alguém dizer que “se nunca ganhamos nada, porque querem agora ganhar tudo?” para cairmos na realidade. Efectivamente, ganharmos qualquer coisa em termos desportivos é uma excepção e não a regra. E esta regra aplica-se a quase todo o resto. Não ganhamos nada desde os descobrimentos, em que a nossa influência cresceu muito mais do que aquilo para o qual estaríamos preparados. Daí para cá, só temos perdido, até Olivença por culpa de não a querermos recuperar. Depois ganhámos uma democracia mas, atendendo à instabilidade que a mesma nos trouxe em muitas áreas, até alguns pensam que era melhor como estávamos dantes. Não admira que o sentimento de fracasso esteja tão profundamente arreigado na nossa cultura.

Olhamos para o passado distante e vemos quão grandiosos eram os nossos lideres de então, olhamos para o passado recente e presente e só encontramos mediocridade, salvo raras excepções, e ainda ficamos mais deprimidos. Habituados a que nos digam o que fazer, quando da classe política e governante não vêm nada que se aproveite, sentimos que estamos à deriva, sem um desígnio que possamos interpretar e dar corpo.

Na realidade, esta falta de desígnio em todas as áreas da nossa vida enquanto país é assustador. Em termos geo-estratégicos, uns dizem que nos devemos voltar para a Europa, cada vez mais distante, enquanto outros dizem que o Atlântico é a nossa saída natural e é para aí que devemos olhar. Em termos económicos, alguns pensam que a industria ainda é a nossa solução, mas muitos dizem que temos de nos voltar para os serviços se queremos crescer. Mas serviços voltados para a Europa ou para o Atlântico? E conforme as opiniões continuam a evoluir relativamente a outros assuntos, as divergência aumentam.

Falta-nos liderança estratégico-política e estratégico-economica, pelo menos enquanto não aprendermos a pensar por nós próprios. Mas como podemos pedir aos outros aquilo que nós não conseguimos fazer? Isto aplica-se de cima para baixo e inversamente. Como podem os nossos políticos pedir que façamos grandes feitos quando eles não o conseguem? E como podemos nós pedir-lhes grande liderança quando também são feitos da mesma massa que nós? Resta-nos esperar que uma das raras excepções, que de vez em quando acontecem, se volte a repetir e, surja, do nada, um líder para este pequeno canteiro à beira mar fustigado.