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domingo, 30 de maio de 2010

EFEITOS DA GLOBALIZAÇÃO

Por mais que se fale da globalização e dos seus impactes na economia destes tempos de profundas alterações, nem sempre conseguimos perceber e antecipar todos os efeitos que as mudanças na economia provocam no cidadão normal de uma qualquer geografia.

De uma forma geral ao falarmos de globalização pensamos em empresas de grandes dimensões, com marcas universais, que operam em todos os mercados, abrangendo a esmagadora maioria da geografia do planeta.

Pensamos também em movimentos geográficos no campo da produção de produtos, na movimentação de mão-de-obra, quer seja especializada quer não, e acima de tudo na movimentação de capitais.

Pensar ainda em globalização é também ver de forma holística os equilíbrios e desequilíbrios geo-políticos existentes e a forma como os mesmos afectam o movimento de globalização.

Finalmente, a globalização têm ainda uma componente cultural, também ela importante sob o ponto de vista económico.

Porém, o que raramente se pensa é que a globalização está também presente nos fenómenos naturais e nos seus impactos na economia, especialmente nas populações.

As alterações que a erupção do vulcão na Finlândia causou temporariamente no quotidiano de muitos cidadãos, principalmente na Europa do Norte e nos EUA são disso um excelente exemplo. A disrupção que a nuvem de pó causada pelo referido evento provocou nas normais vidas de muitos viajantes de meios de transporte aéreo, como profissionais e muitos homens de negócio, turistas e outros viajantes foi objecto de muitas crónicas nos “media”.

Porém, os impactes das nuvens de poeira vulcânica não se ficaram pelos viajantes. Tiveram também efeitos nas populações de vários pontos do globo que nem sequer viajam de avião.

O exemplo disso foi-me contado por um taxista de Belo Horizonte, no Brasil, que durante uma semana viu o seu volume de trabalho drasticamente reduzido durante a semana de mais cancelamentos de voos de quase toda a Europa. Os voos cancelados na Europa, onde se incluem todos aqueles com destino ao Brasil, eliminou uma grande percentagem das corridas de táxi entre o aeroporto e a cidade de Belo Horizonte, principal actividade do taxista em causa, de tal forma que as suas receitas dessa semana se ressentiram bastante.

De facto, estamos perante uma nova realidade, que não será novidade para muitos, mas que vai muito mais além do obviamente visível. Economicamente estamos todos muito mais dependentes uns dos outros, independentemente da nossa posição geográfica ou da nossa actividade.

Ninguém pode ignorar esta nova realidade.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

AJUDAR OS RICOS EM NOME DOS POBRES

A ainda recente tragédia das inundações na Madeira e o enorme movimento de solidariedade nacional que conseguiu angariar vários milhões de euro para a reconstrução de muitas habitações de famílias desalojadas faz-nos pensar como esta situação diferiu em muito do apoio que também a nossa população deu para a tragédia do terramoto no Haiti.

Independentemente dos valores para uma e outra situação, todos conseguimos de alguma forma identificar como o apoio prestado à Madeira teve impacte na população Madeirense. Por exemplo, tivemos a informação de que os apoios obtidos da população por via de uma estação de televisão foram suficientes para reconstruir doze casa numa determinada área afectada pelas enxurradas, onde ficaram outras tantas famílias desalojadas. Todo o dinheiro, fazendo a conta entre o valor total e o número de habitações, respectivamente de um milhão de euros para doze casas, parece ter chegado ao seu destino.

O mesmo não poderemos dizer do apoio dado para o Haiti. Uma grande percentagem dos donativos angariados em Portugal, como no resto do mundo, foi consumida com custos de logística e de gestão. Geralmente menos de 50% dos donativos chegam às populações necessitadas, existindo casos em que apenas uma pequena percentagem, pouco acima dos 10% consegue atingir o objectivo principal.

Pelo meio ficam os custos com a aquisição de bens em países ricos e produtores dos mesmos, com logísticas complicadas de transporte aéreo e marítimo, com direitos alfandegários, com custos de gestão na origem e no destino, bem como com desvios e roubos ao longo de todo o processo e percurso.

Este é um dos principais dilemas para quem ajuda nestas situações. Nunca se sabe onde é que o dinheiro fica ou chega.

Contudo, como no caso da Madeira, em que o dinheiro vai directamente para os beneficiários, sendo que os custos de gestão, de logística, de transportes, de taxas, etc. ficam reduzidos a zero ou lá muito perto, os donativos tem quase 100% de efeito.

Esta comparação, apesar de pecar por falta de fundamentação mais profunda, trás ao de cima a principal diferença entre apoiar um país rico ou um país pobre, em caso de calamidade ou desastre.

No primeiro caso, o dinheiro vai ajudar o país visado, contribuindo de forma directa também para a economia do mesmo. No segundo caso, o dinheiro vai para os países que enviam os bens, ajudando a economia destes, sendo que o valor dos mesmos bens é fortemente reduzido em relação ao valor dos donativos.

O cepticismo de uma grande parte da população dos países ricos com propensão para doar em caso de calamidades e desastres é fundamentado pela desconfiança de que o seu apoio vai para os mais ricos e não para os mais pobres, apesar de muitos, estupidamente, quererem fazer crer que é o contrário.

sábado, 2 de janeiro de 2010

A INFORMAÇÃO DO ESTADO E A ECONOMIA.

No seu discurso de Ano Novo (2010), o Presidente da República apresentou como solução para a actual crise (quase explosiva) que se vive em Portugal, sendo ela principalmente de cariz económico, (1) o “aumento da competitividade nacional” e (2) um “maior apoio aos mais desfavorecidos”. Esta ordem de pensamento necessita de uma curta análise interpretativa do significado de ambas as prioridades.

No que diz respeito ao “aumento da competitividade nacional” convém estabelecer que a mesma é resultante da capacidade dos produtos nacionais têm de competir com os seus concorrentes internacionais. Neste jogo concorrencial, existem dois factores fundamentais: o preço relativamente aos produtos de massa ou “commodities” e a qualidade nos produtos de nicho ou “premiuns”. Assim, concorremos pelo custo de produção que nos permite vender a preços mais baixos do que os concorrentes ou concorremos pela qualidade dos produtos, sendo que esta qualidade se manifesta num mais elevado “valor” que os mesmos possam ter para os consumidores.

Vejamos como se poderá obter cada uma dessas vantagens competitivas.

O custo baixo de produção ou preço baixo de venda obtém-se por via de vários factores, entre outros: baixo custo da mão de obra (politica laboral); elevado índice de produtividade das empresas por via de excelentes processo de gestão e de automação(inovação empresarial) ; taxa cambial em baixa da moeda do país em que o produto é produzido ou taxa cambial em alta da moeda do país que importa o produto (politicas monetárias); baixos custos de externalidade (custos com o Estado relacionados com a burocracia e com os impostos); infra-estruturas de apoio à actividade económica (investimento público no âmbito da comunicação e da distribuição e na criação de centros tecnológicos); aquisição de matérias primas a preços competitivos por via de políticas comerciais internacionais (acordos inter-governamentais); e, excelentes competências individuais do mercado de trabalho (formação e educação da população trabalhadora).

A qualidade dos produtos, reflectida no “valor” dos produtos, obtém-se por via de vários factores, entre outros: inovação dos produtos obtida por via de novas funcionalidade, do design e da utilização de novos “inputs”; inovação dos processos produtivos obtida por via de novos processos e equipamentos produtivos, de novos processos de gestão organizacional e das TIC e de novos processos de marketing no âmbito da imagem/comunicação e distribuição;

Em género de conclusão, e olhando para cada um deste factores, facilmente chegaremos à conclusão que dificilmente conseguiremos ter qualquer vantagem competitiva em qualquer um deles. Na verdade, a nossa posição relativa em todos os factores relacionados com baixos custos de produção é muito inferior quando comparado com as economias do BASIC e outros do mesmo género e é das mais baixas relativamente à qualidade de produtos quando comparada com os nossos parceiros europeus e similares.

Porém, se tentarmos posicionar este assunto no campo político-económico, chegaremos rapidamente à conclusão que os factores acima enumerados são mais facilmente influenciados de forma positiva por sistemas neo-capitalistas do que por sistemas socialistas. Isto significará que a liberdade individual e de escolha, características intrínsecas dos mercados livres e abertos, se sobreporão aos direitos de igualdade e da responsabilidade comunitária. Este entendimento é crucial para se compreender a pertinência, ou falta dela, da segunda prioridade identificada pelo Senhor Presidente da República.

Pegando então no tema do “maior apoio aos mais desfavorecidos”, convirá começar por identificar quem serão os “mais desfavorecidos”. Neste grupo, poderemos incluir alguns dos mais afectados: desempregados de longa duração por força da sua falta de qualificações; jovens sem qualificações e jovens licenciados com imensas dificuldades na obtenção de colocação no mercado de trabalho; idosos com baixos recursos e meios de subsistência; imigrantes e pessoas com deficiências motoras e psíquicas com dificuldades de empregabilidade; e, crianças, jovens e idosos sem família de suporte.

Estes grupos de desfavorecidos apenas poderão ser ajudados por um Estado Social, que transfira recursos do bem comum gerados pela população activa/produtiva para suporte às necessidades dos mesmos, porque as empresas numa economia neo-capitalista ou de mercado não irão, com toda a certeza, assumir, de forma directa, o ónus com tais externalidades, a não ser que daí advenha alguma vantagem competitiva para elas próprias.

É aqui que começam os paradoxos entre as duas prioridades. Para fortalecer o tecido empresarial e criar condições para que se tornem competitivos, ter-se-ão de tomar medidas políticas de âmbito fiscal e laboral que apenas poderão ser contrárias aos interesses dos grupos desfavorecidos. Para apoiar de forma mais acentuada os grupos desfavorecidas ter-se-ão de tomar medidas políticas de âmbito laboral, fiscal e legal que irão contra os interesses das empresas.

Dentro dos limites definidos pelos pólos opostos, “Individualismo e Comunitarismo”, “liberdade e igualdade”, “liberalismo e socialismo”, é difícil, senão impossível, ser simultaneamente uma coisa e outra. Nesta dicotomia entre branco e preto não existe espaço para “tons de cinza” no que diz respeito aos maiores e mais pertinentes interesses de um e outro lado.

É neste contexto que as prioridades enumeradas pelo Presidente da República se tornam inviáveis, especialmente se a sua implementação for tentada em simultâneo. Para que a segunda prioridade, o maior apoio aos mais desfavorecidos, seja possível teremos de ter uma economia forte e um Estado com capacidade financeira para desenvolver acções de apoio aos mais desfavorecidos, o que significa que será necessário implementar a primeira prioridade em primeiro lugar. Para que a primeira prioridade, o aumento da competitividade nacional, seja uma realidade teremos de deixar a segunda para depois, para o médio ou mesmo longo prazo, na medida em que os resultados, especialmente face ao ponto de partida já de si tão deficitário, serão sempre de lento desenvolvimento.

Sendo assim, a quem compete definir prioridades? Ao Presidente da República ou ao Governo? E quem irá ter a coragem, política e social, para esclarecer este assunto a todos os Portugueses, bem como informar quais serão todas as implicações de uma qualquer prioridade para os diferentes agentes económicos e sociais? Quem irá, de uma vez por todas, dar as más notícias aos Portugueses? Ou iremos esperar pelo anunciado desfeche para que a notícia seja post mortem?