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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

INDIVIDUALISMO vs COLECTIVISMO

Na natureza podemos encontrar várias formas de organização social, que se colocam em extremos opostos.

As formigas estão organizadas de forma colectiva, com uma estrutura hierárquica e organizacional bem definida e imutável (não existe inovação nem revolução). As cigarras vivem sozinhas, separadas dos restantes elementos da mesma espécie, não possuindo uma estrutura social. Colectivamente (as formigas) ou Individualmente (as cigarras), ambas as espécies conseguem sobreviver, não sei precisamente desde quando, mas arriscamo-nos a dizer que para lá de um milhão de anos.

Mais recentes na vida do planeta Terra, os "suricatas" (há quem erradamente lhes chame cães da pradaria) tem uma estrutura organizacional, hierárquica e social muito bem definida, vivendo em perfeito regime colectivo, o que lhes garante a sobrevivência nos hostis ambientes africanos. Por outro lado, as "chitas" vivem isoladamente, longe das da sua espécie, num perfeito regime individualista, mantendo também a sua sobrevivência nos mesmos ambientes africanos.

Entre estes dois extremos podemos encontrar outras "misturas" com menor ou maior tendência para um dos lados ou extremos.

Se pensarmos na nossa sociedade, poderemos com um reduzido risco dizer que o "homem" se deverá ter organizado de forma colectiva logo nos primórdios da sua existência, à semelhança dos seus parentes primatas, e como ainda podemos ver nas tribos indígenas do Amazonas ou de Papua - Nova Guiné.

Este regime colectivo de organização da sociedade humana assenta na partilha dos bens e conhecimentos, como também na partilha das responsabilidades e obrigações. São regimes colectivos, onde a independência individual é sobreposta pela igualdade entre pares, tanto nos direitos como nos deveres. A hierarquia existente é presente mas não imposta de forma extrema. O direito à opinião e participação para o "bem comum" é igual para todos.

Assim, poderá ser correcto dizermos que o homem tem uma forte tendência histórica para viver de forma colectiva, em sociedade, onde a igualdade tenderá a sobrepor-se ao individualismo ou, nalguma extensão, à liberdade individual.

Porém, durante os últimos séculos, desde a revolução industrial em termos económicos, e a revolução francesa em termos sociais/políticos, temos vindo a assistir nos países do ocidente a uma maior tendência para se valorizar o individualismo e a liberdade individual, apesar das tentativas contrárias de Henkel e Marx (entre muitos defensores do colectivismo).

No século passado, Hayek e Friedman (entre outros) defenderam a liberdade individual como ponto de partida para uma sociedade justa, onde cada um tem direito a ser diferente em função do seu esforço e contributo para a sociedade, sendo que essa sociedade se manifesta num mercado verdadeiramente livre.

Assim, do lado do individualismo teremos alguns princípios dogmáticos como: liberdade de escolha, liberdade de acção, comercialização e movimentação de pessoas e bens, exaltação do indivíduo, do corpo, do sucesso profissional e económico, e liberdade política e económica.

Por outro lado, o colectivismo assenta em alguns dogmas como: participação colectiva de todos, igualdade de direitos e deveres, partilha de resultados, e participação cívica e política.

Aceitando estes princípios como correctos, poderemos então compreender como eles se reflectem na nossa sociedade e na economia.

No lado do Individualismo aceita-se forças políticas diversas, que representem os mais variados interesses, podendo o poder ser partilhado. No lado do Colectivismo aceita-se a participação no partido que represente a maioria, sendo que é a maioria que tem o poder absoluto.

A liberdade de escolher tudo o que se relacione com o indivíduo, como profissão, formação académica e profissional, casa, carro, etc. é típico da filosofia individualista. No lado da filosofia colectivista, o interesse colectivo (do todo) sobrepõem-se às preferências e interesses dos indivíduos em todas essas áreas.

O mercado livre e o capital (como no capitalismo e no neo-liberalismo) são o resultado da aplicação do ideal individualista. O Estado intervencionista e social (social-democracia, socialismo e comunismo no seu extremo) resulta do ideal colectivista.

Se ao individualismo se associa a direita política e ao colectivismo a esquerda política, ficam por responder alguns comportamentos das mesmas correntes políticas, tanto de uma como de outra.

Por exemplo, porque é que o casamento gay (liberdade de escolha sexual individual) não é defendido pela direita mas sim pela esquerda? Porque razão a esquerda pareceu mais preocupada com a potencial queda do sistema financeiro aquando da recente crise do sub-prime do que a direita, se se pretendia apenas garantir os benefícios individuais dos depositantes contra os custos colectivos para os garantir?

Os paradoxos parecem ser bastantes, o que torna impossível para o cidadão comum compreender certas atitudes e acções políticas que se reflectem directamente na nossa sociedade e economia.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A IMPORTÂNCIA DO IDE

Portugal apresentou em 2008 uma das mais baixas taxas de investimento directo estrangeiro, 59%, ficando consideravelmente abaixo da média europeia, que foi de 74%, segundo um estudo divulgado pela Ernst & Young.

O estudo revela que grande parte dos investimentos estão concentrados na área da produção, o que leva a que a média de postos de trabalho criados em Portugal por cada projecto tenha sido de 157, muito acima da média europeia de 70.

Sabendo que o nosso pais já não beneficia do grande diferencial no custo de mão-de-obra que existia há umas décadas atrás, tendo sido substituído nessa matéria pelos países do leste europeu e asiáticos, esta situação poderá ser preocupante na medida em que terá tendência a desaparecer a curto prazo. Aparentemente, a procura de Portugal para investimentos na área da produção, com especial incidência na indústria automóvel, será uma consequência da existência de mão-de-obra suficientemente qualificada e produtiva. Contudo, e olhando para o que acontece noutros países da Europa e até nos próprios EUA, o investimento directo estrangeiro tem vindo a concentra-se nas áreas tecnológicas e de elevado valor acrescentado, nomeadamente mais nas áreas dos serviços especializados do que nas indústrias produtivas.

O IDE funciona, em termos macro e de balança de pagamentos do país, como a exportação de bens de consumo, injectado capital na economia. Com uma balança de pagamentos deficitária e com uma dívida externa que já ultrapassa o valor do PIB, o país e os seus governantes deveriam olhar para este assunto com muito mais apreço e cuidado.

Mas o IDE poderá trazer ainda mais ao país do que uma injecção externa de capitais. Potencialmente trará consigo tecnologia de ponta, novos conhecimentos e competências e novas oportunidades para desenvolvimento de outros negócios ao nível interno da própria economia.

Para aumentar o investimento directo estrangeiro no nosso país teremos de nos assegurar que foram criadas as condições que poderão atrair o mesmo tipo de investimento, nomeadamente regulamentação laboral, fiscal e administrativa adequada bem como mão-de-obra altamente qualificada, especialmente nas áreas tecnológicas de rápido desenvolvimento, como as TIC, nanotecnologia, biotecnologia e outras.

As empresas internas poderão também contribuir para o aumento do IDE, por via de parceiras tecnológicas e de financiamento, mas o seu impacte será sempre reduzido quando comparado com o papel do Estado, que deverá criar as condições propícias ao investimento, tanto externo como mesmo interno. A atractividade do país mede-se pelo ambiente (externo) do mesmo e não apenas pelo ambiente (interno) de uma ou outra empresa.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A CEGUEIRA DO FISCO

A actual atitude e comportamento do fisco para com os contribuintes tem feito com que as empresas e gestores tenham vindo a assumir, também eles, atitudes e comportamentos que em muito prejudicam a economia.

A crescente perseguição do Estado aos gestores de empresas com dívidas para com o Estado, por via do IRC, IVA e descontos para IRS e para com a Segurança Social, tem alterado a atitude e o comportamento de muitos gestores quanto à definição das suas prioridades de curto prazo, o que acaba por ter repercussões no longo prazo.

Muitos administradores e gerentes de empresas já interiorizaram que têm primeiro de pagar ao Estado e à Segurança Social do que a empregados e fornecedores, se querem manter os seus bens próprios a salvo.

Assim, para além dos empregados e fornecedores, que acabam muitas vezes por assumir os custos de situações de crise das empresas, são os próprios investimentos geradores de lucros e de sustentabilidade económica das empresas a médio e longo prazo que ficam em risco de se concretizar.

Se por um lado temos de ter empresas saudáveis, bem geridas, cumpridoras dos seus deveres e que joguem o jogo de mercado de acordo com os princípios correctos, por outro lado temos de distinguir entre aquelas empresas que passam por situações económicas e financeiras difíceis, vítimas das situações de contexto de um dado momento e outras que não seguem as boas práticas da igualdade e da livre concorrência e têm atitudes desrespeitadoras dos seus deveres e obrigações.

A estas últimas, e de forma directa também aos seus responsáveis quando assim for provado, deve o Estado ter a mão suficientemente dura para punir irregularidades e abusos.

Mas medir todas as empresas e todos os gestores pela mesma bitola, sem preocupação em compreender as causas directas que levaram aos incumprimentos, sendo que em alguns casos as mesmas estão relacionadas com incumprimentos do próprio Estado, será ter uma visão demasiado curta do impacte que o estrito cumprimento das regras penalizadoras pode ter na própria economia a médio e longo prazo.

Começa a ser frequente assistir-se ao encerramento de micro e pequenas empresas e à recusa em se fazer novos investimentos com base na rejeição dos investidores e gestores ao risco inerente à atitude do Estado, evitando-se assim os potenciais impactes que a mesma possa ter na actividade das empresas.

A eliminação do tecido empresarial, numa economia de mercado aberta e livre, por via da criação de aversão ao risco nos empresários e potenciais empreendedores é matar a própria economia e, consequentemente, a fonte dos recursos que alimenta o Estado, colocando-o também desta forma em perigo.

Muitas vezes assistimos a posições extremistas e de cegueira na aplicação das regras e da autoridade que, estupidamente, são mais prejudiciais do que benéficas para a sociedade.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

MÃO-DE-OBRA: custo e impactes.

Sabemos que o custo da mão de obra contribui para o custo da produção, tanto de forma directa como indirecta. Os produtos de um país serão tão competitivos no mercado global quanto os custos da sua mão de obra, e outros, são mais baixos que os dos concorrentes. O fenómeno da deslocalização das indústrias com mão de obra intensiva directa é a consequência mais visível deste fenómeno de desigualdade.

Também o custo do trabalho indirecto tem um forte impacte no preço dos produtos de um dado país. Os custos administrativos, tanto ao nível das empresas produtoras e do resto da cadeia de valor que leva o produto até à exportação, como ao nível da administração pública do mesmo país, contribuem cada vez mais para os custos dos produtos. À medida que a robotização e as tecnologias de informação vão assumindo cada vez mais importância na capacidade produtiva, substituindo a mão de obra, tanto nas actividade produtivas como mesmo nas administrativas, o custo da mão de obra ou do trabalho indirecto é também cada vez mais relevante na constituição dos custos finais.

O aumento dos salários da função pública, pagos com os impostos dos contribuintes, cidadãos e empresas, acarreta geralmente subidas na carga fiscal, que afecta directamente os mesmos cidadãos e empresas.

Aqui entra-se num ciclo vicioso. Os cidadãos contestam a perda de capacidade de compra, criada pela subida dos impostos, e exigem aumentos salariais. Os aumentos salariais acarretam aumento do custo de produção dos produtos, que perdem competitividade. O aumento salarial por outro lado leva a que o Estado recolha mais receita dos impostos sobre esses. Porém, em vez de diminuir a carga fiscal por via da utilização dessa receita extra, o mesmo Estado tem de aplicar esse recurso na compensação do desemprego criado pela robotização e automação dos processos produtivos e administrativos. A própria administração pública que tinha visto o seu trabalho vais valorizado perde de esse benefício com o aumento do preço dos produtos.

Ninguém ficou a ganhar, mas todos ficaram a perder.

O aumento da capacidade de compra das populações não sobe forçosamente por força das subidas salariais. As variações nos preço dos produtos e serviços par aos consumidores, ou seja a inflação, tem mais influência no nível de vida.

A subida do custo do trabalho afecta negativamente a inflação. O aumento de produtividade afecta positivamente a inflação. Se uma é prejudicial e a outra benéfica, porque não se definem politicas que levem à persecução da melhor solução, perguntarão muitos.

Também, nesta matéria, estupidamente outras forças e razões mais fortes sobrepõem-se aos princípios económicos.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A ELECTRICIDADE NA ECONOMIA

Não foi a máquina a vapor, causa próxima da revolução industrial, que trouxe prosperidade ao mundo, mas sim a electricidade.

Benjamin Franklin pode um dia ser considerado o maior inovador (revolucionário) do mundo, porque para todos os efeitos do seu trabalho na área das descobertas no campo da electricidade é simplesmente inultrapassável no que concerne ao desenvolvimento da sociedade e da economia. Podemos dizer com propriedade que existem duas eras na civilização e na economia: ante e depois da electricidade.

A história ainda não fez justiça a esta verdade. Aponta-se sempre a máquina a vapor como o grande salto no desenvolvimento da economia e da sociedade.

Contudo, numa análise aos impactes imediatos e directos na sociedade e na economia, poderemos dizer que se ainda hoje apenas vivêssemos com máquinas a vapor e sem electricidade, estaríamos por certo no tempo das trevas.

O mundo gira com base na electricidade. Mesmo os meios de locomoção movidos a combustíveis fósseis estão a fazer uma derradeira transição para o consumo eléctrico.

Se imaginarmos por alguns momentos que por uma qualquer razão a produção ou a distribuição de electricidade fosse interrompida em todo o mundo num dado momento, chegaremos imediatamente à conclusão que a nossa sociedade entrará em pânico poucas horas depois. Os hospitais deixarão de funcionar com consequentes perdas de vidas, a distribuição de água ficará interrompida privando a esmagadora maioria da população dessa fonte indispensável de vida, o saneamento deixará de funcionar provocando a contaminação por doenças de muita gente, a sinalização luminosa de trânsito desaparecerá provocando enormes engarrafamentos, as fábricas deixarão de funcionar com perda de postos de trabalho, a produção de alimentos será interrompida, bem como a sua distribuição por impossibilidade de abastecer os veículos com combustíveis, os sistemas informáticos deixarão de funcionar, as telecomunicações ficarão inoperantes e a comunicação ficará reduzida a zero, tudo isto no mundo cada vez mais global e uniforme nos desejos, anseios e padrões de vida.

A sociedade não está preparada para sobreviver sem electricidade.

Quanto tempo conseguirá cada um de nós sobreviver sem electricidade?

As populações dos grandes centros urbanos são as mais fragilizadas. As populações rurais poderão resistir mais algum tempo. Mas a questão é quanto tempo leva a que o campo não seja invadido e saqueado pela população urbana, desesperada e tentando sobreviver a todo o custo?

A produção de electricidade em pequenos núcleos locais, independentes de grandes redes de distribuição, nunca foi pensada devido aos custos que pequenas produções acarretam. Mas, e se ficarmos sem as grandes redes de distribuição, devido a uma qualquer causa natural?

É impressionante, quando visto nesta perspectiva, como este problema tem sido descorado por governantes de todo o mundo.

Sem electricidade mais de três quartos da população mundial arrisca-se a perecer a curto/médio prazo. Contudo, parece que, estupidamente, esse problema ainda não foi devidamente avaliado nem reconhecido.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A RIQUEZA DAS FAMÍLIAS E A ECONOMIA.

Os dados estatísticos mostram que as famílias portuguesas estão a amealhar mais do que costumavam fazer nos últimos anos.

Quer isto dizer que estamos a atravessar a crise de forma confortável e que a população portuguesa está devidamente preparada para enfrentar os tempos ainda difíceis que restam antes da retoma económica? Não, necessariamente.

De facto, o capital bem como os activos financeiros líquidos detidos por particulares aumentaram no segundo trimestre deste ano, contrariando a tendência de mais de uma ano, coincidente com todo o despoletar, primeiramente, da crise financeira e, depois, da económica.

Por uma lado as pessoas estão a poupar mais. Por outro, tem-se assistido a uma ligeira mas continuada recuperação das bolsas. Contudo, muitos dos investidores bolsistas passaram para produtos bem mais seguros, como depósitos a prazo, os quais têm vindo a aumentar consideravelmente.

Mas quem são as pessoas que estão efectivamente a poupar mais? Quem aufere rendimentos diminutos, já insuficientes muitas vezes para suportar o custo de vida diário, não conseguirá por certo aforrar o quer que seja. Quem perdeu o seu rendimento por via do desemprego muito menos poderá ajudar neste exercício. Então quem sobra? Naturalmente que aquelas que continuam a laborar e a auferir os seus rendimentos e que mais ganham na pirâmide hierárquica do rendimento geral.

Efectivamente a classe média-alta, que conseguiu preservar os seus empregos ou negócios, terá capacidade para aforrar agora mais do que antes, por força da deflação existente ou por retracção no consumo, ou até mesmo no investimento.

Assim, o aumento de capital devidamente guardado em depósitos a prazo ou noutros produtos financeiros garantidos, parcial ou totalmente, ao invés de querer significar que estamos a ficar mais fortalecidos enquanto população para enfrentar a crise que ainda continua, significará por certo que a crise se agudizará ainda mais, devido principalmente à diminuição do investimento privado.

Em vez de investirem em propriedades imobiliárias ou consumirem mais bens de consumo, quem detém o capital está a guardá-lo, na expectativa da queda dos preços por força da deflação ou por medo de vir a perder os seus investimentos. A aversão ao risco cresce consideravelmente em tempos de crise. Não basta a comunicação de que os restantes países da Europa e os EUA estão a sair da crise e que existem sinais de retoma. É necessário sentir isso à nossa volta, o que não está a acontecer neste momento.

A continuada subida do desemprego, que ainda não atingiu os valores por muitos vaticinados, a falta de projectos nacionais estruturantes e suficientemente abrangentes que promovam a recuperação económica e o emprego, a inexistência de políticas de apoio à iniciativa privada e individual, e outras situações contrárias à satisfação social fazem com que os cidadãos que possuem activos financeiros os deixem estar muito bem guardados nos cofres dos bancos ou noutras instituições fidedignas, se ainda existir tal segurança.

Desta forma, sem investimento e sem consumo forte, naturalmente que os cofres dos bancos cheios de dinheiro em nada ajudarão à criação de riqueza e à saída da crise. 

PARQUES DE ESTACIONAMENTO E MULTAS POR ESTACIONAMENTO

A razão inicial que leva as autarquias a criar áreas de estacionamento pago é rapidamente esquecida em favor de outra bem mais importante, a das receitas.

As autarquias costumam criar zonas pagas de parqueamento automóvel de forma a fazer com que as pessoas se sintam desincentivadas a levar os seus carros para as zonas centrais das cidades e a deixá-los lá por muito tempo, fazendo assim uma ocupação plena dos poucos espaços existentes para se poder parquear viaturas automóveis.

Efectivamente, é a falta de espaço público livre para se estacionar as viaturas nos centros das cidades e vilas que cria a necessidade de se limitar o tempo de estacionamento. Este princípio parece justificar a criação de limite de tempo de estacionamento, para que todos possam usufruir dos limitados espaços físicos existentes, bem como de um custo para o fazer, de maneira a criar uma barreira económica à utilização exagerada do espaço público.

Geralmente estas situações acontecem porque as cidades não foram planeadas para receber sequer automóveis, quanto mais nas quantidades que hoje em dia afluem aos centros urbanos.

A isto chamam os economistas “falha de mercado”. Assim, espera-se que o próprio mercado, do lado da oferta, dê resposta às necessidades, isto é à procura, criando espaços onde as pessoas possam estacionar as suas viaturas. Contudo, se as autarquias continuarem a disponibilizar espaços de estacionamento a custo zero para os utentes, os privados que o fizeram terão enorme dificuldade em obter utilizadores e, consequentemente, retorno par aos seus investimentos. Porém, numa situação de espaços públicos livres e gratuítos em reduzida quantidade e simultaneamente de oferta privada em grande quantidade pode-se perder a igualdade de oportunidade entre os que conseguem estacionar gratuitamente e os que se vêem obrigados a pagar para o mesmo fim.

A grande procura de estacionamento nos centros urbanos tornou-se numa enorme oportunidade de negócio. De tal forma que as autarquias já não estão interessadas nem em oferecer estacionamento gratuíto nem em limitar o tempo de estacionamento, de forma a que todos os utilizadores tenham a igualdade de oportunidade de obter um espaço livre para estacionar, mas estão antes interessadas em obter receitas para elas próprias.

Desta forma, o utilização de parquímetros generalizou-se nas localidades, grandes e pequenas, sendo que as ruas passaram a ser espaços de criação de receitas para as autarquias em vez de serem espaços para circulação e estacionamento.

Por outro lado, e devido ao enorme custo do espaço urbano, em geral altamente inflacionado pela especulação imobiliária, construir parques de estacionamento não é uma das opções mais lucrativas para a iniciativa privada. Esta realidade leva a que as autarquias tenham interesse redobrado na gestão dos espaços livres e destinados aos estacionamentos.

Uma “falha de mercado” torna-se, por via da tentativa da sua própria solução, numa “falha do regulador” que acaba por criar mais um imposto sobre os cidadãos utilizadores dos estacionamentos urbanos. A falta de transportes públicos adequados que permitam a movimentação dos cidadãos dentro das zonas urbanas com facilidade, na maioria das vezes inexistentes por falta de rentabilidade de tal serviço, leva a que os utilizadores tenham de se fazer transportar em viaturas próprias, enchendo cidades e vilas. Estupidamente, continuamos a suportar tais esquemas em nome da regalia de levar as nossas viaturas para os centros urbanos.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A ECONOMIA NA IGUALDADE DE GÉNERO

Quem contribui mais para a economia: os homens ou as mulheres?  

A resposta a esta pergunta não pode ser vista apenas sob um dos potenciais pontos de vista, pecando por se tornar redutor. Vejamos uma das possíveis perspectivas que se podem ter sobre o assunto.

"O gap salarial entre homens e mulheres ronda os 10% nas profissões de nível mais baixo, mas quando se sobe na escala vai piorando. Nos cargos de topo, a diferença ronda uma média de 30% a favor dos homens". Esta constatação poderá indicar que tal facto contribuirá para uma maior competitividade da nossa economia?

Aparentemente, sim. De facto, salvo raras excepções onde a força e a resistência físicas se demonstram determinantes, as mulheres são tão produtivas quanto os homens, chegando mesmo a atingir mais elevados níveis de produtividade em actividades muito repetitivas e de longa duração. O mesmo se passa em actividade de índole criativa e intelectual.

Se esta visão é favorável à economia, por via do aumento de competitividade, então onde poderá estar a desvantagem? Claramente, e muito raramente definida como o efeito último, a desvantagem está na distribuição do valor gerado e no efeito que a mesma tem na economia. Populações com menores rendimentos consomem menos e têm menores hipóteses de aforrar.

Contudo, esta visão do aumento de competitividade por via da utilização de recursos menos dispendiosos, mão de obra feminina, poderá ser rapidamente anulada se os outros países fizerem o mesmo, o que de resto já acontece. A componente feminina do total da mão de obra dos países nas economias ocidentais tem subido nas últimas décadas, não só em quantidade como em qualidade e competências. Daí, e por via da globalização dos métodos de gestão, o expediente poderá não funcionar. Então o que resta fazer?

Uma das primeiras opções, não sendo possível equiparar os níveis retributivos das mulheres ao dos homens, é precisamente fazer o contrário. Assim, existirá uma perda generalizada do poder de compra das populações, o que volta a nivelar todos os países, mas pelo menor denominador comum.

Quem irá perder com este esquema de redução do custo da mão de obra? A classe média, naturalmente, como de resto se tem vindo a verificar nos últimos tempos no ocidente.

Assim, a questão “quem contribui mais para a economia, os homens ou as mulheres?”  parece perder todo o sentido, porque, estupidamente estamos a ser usados e acabaremos por perder todos em conjunto.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

A CRISE NÃO É PARA TODOS

Estamos a assistir ao regresso dos prémios chorudos no mundo financeiro. 

O regresso dos prémios milionários aos gestores de topo das grandes empresas financeiras pode colocar algumas questões aos cidadãos contribuintes.

Depois da crise financeira provocada essencialmente pelos produtos tóxicos (sub-prime e outros de elevado risco) e dos tremendos prejuízos a eles associados que levaram muitas instituições financeiras à quase ou mesmo falência, sendo que algumas foram salvas pela intervenção dos Estados, ou por outras palavras, pelos contribuintes, o mundo financeiro voltou aos lucros, nalguns casos ainda mais elevados do que no melhor ano antes da crise, 2007.

Com a desculpa da crise financeira, os bancos viram as taxas de referência baixar em todo o mundo para valores mínimos. Com base neste contexto, os bancos aproveitaram para fazer subir as suas margens (spreads) aos seus clientes, o que lhes trouxe margens de lucro acrescidas. Da mesma forma, e por força do controlo necessário para evitar créditos mal parados, muitas operações passaram a estar seguras pelos próprios Estados.

Entre nós, isso aconteceu com o programa PME-Investe, que permitiu a muitas empresas com dívidas dispersas à banca substituírem as mesmas por uma única e consolidada conta, sendo esta garantida parcialmente e objecto de bonificação pelo Estado.

As empresas poderão ter ganho alguma coisa com a ligeira redução da taxa de juros aplicada, sendo que nem sempre assim aconteceu, mas os grandes “ganhadores” foram os bancos que viram os seus spreads aumentar por força das condições do programa e viram o seu risco reduzir-se para metade ou, também em alguns casos devido a subtis engenharias, para quase nada.

O facto é que muitos apoios dados pelos Estados à economia, directamente às empresas ou aos consumidores, acabaram indirectamente nos cofres das entidade financeiras, juntando-se ainda às ajudas (donativos) que os mesmos Estados tinham dado directamente às referidas entidades.

Não é de admirar que os lucros da grande maioria de entidades financeiras tenha de repente atingido valores nunca pensados, até mesmo acima do que de melhor já tinha acontecido no passado.

E nada melhor do que retribuir os gestores de topo dessas mesmas entidades com prémios, indexados aos novos êxitos, como recompensa pelo excelente trabalho desenvolvido na recuperação dos lucros perdidos. Fica sempre a questão sobre os prejuízos causados pela má gestão de tais gestores e que apenas foram estupidamente pagos pelos contribuintes.

Claro que sob a ameaça de podermos perder tudo, qualquer um de nós aceita contribuir para salvar a situação de quase falência do sistema financeiro. Mas porque não nos é agora devolvida a ajuda que demos, enquanto contribuintes, para salvar as entidades financeiras?

Parece que acabamos por pagar mais um grande “imposto” para benefício de apenas uns poucos. Estupidamente, fomos mais uma vez comidos por “parvos”.

domingo, 11 de outubro de 2009

A RELAÇÃO ENTRE A EDUCAÇÃO, A CRIMINALIDADE E A ECONOMIA.

Estaremos a caminho da “barbarização” da sociedade?

A falta das competências que permitam adquirir formas de ganhar a vida pelo trabalho leva muitas pessoas sem qualificações e competências a viverem de forma equivalente ao estado primitivo do homem recolector, só que actualmente a colheita é urbana e sobre os bens de outrem.

Um recente estudo da Northeastern University (EUA), utilizando os censos e outras informações do governo americano, analisou as experiências nos empregos, nos locais de trabalho, na paternidade e no crime dos jovens que desistiram da escola. Os resultados apontam para a existência de uma relação directa entre a desistência na escola secundária e a criminalidade.

Estes dados, apesar de se referirem aos EUA, serão por ventura coincidentes com os restantes países considerados desenvolvidos, onde se inclui o nosso.

Sem que surja como uma surpresa para muitos, este estudo, como outros feitos anteriormente, vem efectivamente retirar qualquer dúvida sobre a existência de uma forte exclusão ao nível económico dos menos literados e qualificados que se converte em exclusão social e em criminalidade.

Algumas décadas atrás, os jovens que saiam da escola no final do ensino secundário, ou até mesmo antes, encontravam facilmente emprego nas indústrias transformadoras e na construção civil, como fuga à agricultura, auferindo salários que lhes permitiam ter um nível de vida aceitável e despreocupado.

A situação mudou nas últimas décadas. As indústrias transformadoras com mão de obra muito intensiva têm vindo a deslocar-se para outras regiões com mão de obra mais barata (América do Sul, Europa Central e Ásia). Os postos de trabalho que vão restando, como os serviços, necessitam de mais competências e qualificações, sendo que também não são em tão grande número que consigam absorver toda a mão de obra desqualificada que foi crescendo com a deslocalização, primeiro das grandes indústrias e, depois das outras utilizadoras ainda de alguma mão de obra de vulto.

Esta situação tem contribuído para que muitos jovens, principalmente do sexo masculino, que também deixam a escola mais precocemente, tenham de sobreviver de trabalhos precários e temporários, dificilmente atingindo situações de emprego de longa duração. Mas outros ainda há que nem trabalho conseguem obter, pelo que se dedicam a actividades ilícitas e à criminalidade, desde idades muito baixas, inseridos em ambientes familiares precários e inseguros.

É normal que quem não consiga ganhar o seu sustento tente colher o mesmo de outra forma. Os nossos antepassados longínquos sobreviveram durante milhões de anos colhendo o que a natureza lhes proporcionava. Nos dias de hoje a natureza é urbana e os bens possuem legítimos donos. Assim, num processo de “barbarização” das sociedades ocidentais, assiste-se ao aumento da criminalidade como consequência da falha dos sistemas económico e social que não criam formas de providenciar trabalho nem fornecem qualificações e habilitações que sustentem o desenvolvimento económico para toda a população.

Populações empobrecidas e desqualificadas fornecem mão de obra mais barata para actividades primárias. Populações altamente qualificadas e ricas não se sujeitam à precaridade e à insegurança. O constante afastamento destes dois grupos pode ter graves consequências nas sociedades futuras. Estupidamente, as visões unilaterais deste problema poderão obstruir a tomada de decisões adequadas, contribuindo potencialmente para criar verdadeiras rupturas nas formas económica e social que conhecemos hoje.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A SUBIDA DA BOLSA EM TEMPO DE RECESSÃO OU ESTAGNAÇÃO

Assim se enganam os incautos.

Nos últimos meses temos vindo a assistir a uma subida consistente em muitas dos mercados de capitais (bolsas) mundiais, criando-se um ambiente de euforia à volta dos lucros criados e dos máximos anuais atingidos, fazendo lembrar outros tempos de elevado crescimento nos primeiros sete anos do século.

Desde o Nobel da Economia Joseph Stigltz até ao investidor e bilionário George Soros, muitos especialistas alertam para os perigos deste repentino crescimento do valor de muitas acções em bolsa.

As empresas ainda não recuperaram, nem de perto nem de longe, da crise económica que se abateu sobre o mercado depois da crise financeira mundial criada pelo fenómeno do sub-prime nos EUA.

Inicialmente, e logo a seguir ao inicio da crise, o preço do petróleo subiu em flecha para valores nunca vistos antes, perto dos 150 USD por barril, possibilitando enormes lucros aos produtores e a muitos especuladores, mas provocando uma forte descida nos mercados de capitais e financeiros, com uma forte desvalorização do dollar americano.

Com a descida do preço do petróleo, os mercados de capitais recuperaram alguma confiança que se veio a converter num crescimento contínuo no valor das acções cotadas em bolsa à medida em que os preços do petróleo se mantinham estáveis.

Esta aparente, falta ainda provar que é sustentada, recuperação da economia tem dado sinais ao mercado que volta a ser seguro investir na bolsa.

O perigo que se coloca com este estado de espírito aparentemente demasiado “optimista”, não fundamentado numa recuperação sustentada da economia em geral, especialmente ao nível da produção e criação de valor acompanhados por aumento de consumo, é que pode induzir muitos investidores mais incautos a direccionarem os seus capitais para os mercados de capitais, na expectativa de virem a obter mais valias de forma fácil, quando não é seguro que este crescimento das bolsas não seja fruto de possíveis manobras de falso crescimento feitas pelos grandes “manobradores” de capitais que sofreram pesados prejuízos com a queda anterior das bolsas.

Aquando da última queda do valor das acções cotadas, muitas empresas viram o seu valor bolsista descer muito abaixo do seu valor real. Este facto não teve um impacte directo imediato nas mesmas, mas com a recessão económica que sucedeu à crise financeira muitas delas viram-se na situação de  acumular prejuízos provocados pelo decréscimo de actividade e acabaram por fazer equivaler em baixo o seu valor real com o seu valor bolsista.

A actual tendência para o rápido crescimento do seu valor bolsista, não estando suportado pelo seu crescimento de actividade, pode criar uma “bolha” que, mais cedo ou mais tarde (como sempre), vai ter de despejar.

É neste processo de especulação que os incautos são recorrentemente apanhados. A não ser que a economia possa dar mostras de crescimento sustentado, por via da criação de valor através do aumento de produção e da acumulação de riqueza, o crescimento do valor bolsista é enganador. A confiança necessita de ser recuperada, mas não estupidamente através de enganos e falácias especulativas. Os cuidados agora são mais do que necessários.

POUPANÇAS E CRESCIMENTO ECONÓMICO

O desprezo pelas poupanças particulares afecta a economia de forma negativa.

A crise continua a ter impactes negativos na sociedade. A perda de valor das acções das empresas cotadas em bolsa tem efeitos na economia que vão para além dos prejuízos que tais desvalorizações possam causar directamente aos investidores.

Os dados mostram que o património bolsista dos particulares em 1998 equivalia a 172% do Produto Interno Bruto (PIB), tendo baixado para 133% em 2007 e para 124,6% em 2009.

Esta última perda de valor no património particular nacional equivale a cerca de dezassete mil milhões de euros, o que daria para financiar por completo as duas maiores obras nacionais, o novo aeroporto e o TGV.

Contudo, para além dessa perda tangível de valor, que apenas será recuperável a longo prazo com a recuperação da confiança e da valorização dos mercados bolsistas, existem outros impactes que nos podem afectar a todos em geral.

As valorizações bolsistas são na grande maioria dos casos aproveitadas pelos investidores para obterem suficiente capital para investir muitas vezes em actividades directa ou indirectamente produtivas, que contribuem positivamente para o PIB. As perdas verificadas, não só na redução ou eliminação dos rendimentos mas também do próprio capital investido no mercado bolsista contribui para a eliminação da capacidade de investimento e para a criação de um ambiente adverso ao risco associado ao investimento.

Por outro lado, os investidores reagem ao risco bolsita desviando as suas poupanças dos mercados de capitais para outros produtos financeiros sem risco, como Títulos do Tesouro ou depósitos a prazo, os quais oferecem rentabilidades muito inferiores, por vezes abaixo da taxa de inflação, o que acrescenta pouco valor a quem possui poupanças.

Mas as crises nos mercados de capitais afectam ainda directa ou indirectamente as taxas de juros centrais e as cotações monetárias, o que pode ter outros impactes nefastos na economia.

As poupanças são, como vimos, uma forma de retenção de riqueza, quando devidamente salvaguardadas, mas também uma forma de financiamento e apoio ao investimento produtivo, quando praticado dentro das regras de sã gestão e coexistência no mercado.

A especulação bolsita, traduzida em crescimentos desmedidos do valor das acções, altamente inflacionadas e em pouco suportadas pela actividade produtiva em si, tem o risco de criar falsas “bolhas” de riqueza que mais cedo ou mais tarde se convertem num esvaziamento desse mesmo valor com prejuízos elevados para muitos aforradores.

Estes ciclos de crescimento bolsistas (bull markets) têm geralmente impacte positivo no crescimento económico das economias nacionais, regionais ou mesmo global. Mas, como poderemos facilmente deduzir, e temos a prova recente, não são sustentáveis a longo prazo, obrigando a reajustamentos na economia com impactes negativos nos PIBs dos países.

A destruição de poupanças (riqueza acumulada resultante de esforço dispendido) é um dano irremediável a qualquer economia. Políticas de incentivo à assunção de risco desmedido com o objectivo de cativar economias particulares para criar falsos crescimentos da economia a curto prazo, parecem-nos estupidamente inconscientes e danosas a longo prazo, para todos em geral.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O PODER DOS “MEDIA”

Os “media” podem distorcer o normal funcionamento da economia. Devemos estar atentos à sua influência.

Conhecemos os “media” como o “quarto poder”. Murdock disse uma vez que, se quisesse,  podia eleger ou fazer cair governos. De facto, os media são utilizados desde há muito tempo por governos e oposições (quando têm essa liberdade) para influenciar pessoas. A expressão “está escrito” é ainda utilizada por muitos como sinónimo da veracidade de algo.

A utilização dos “media” na divulgação da gripe A fez disparar a procura de vacinas para a epidemia. A não divulgação dos media do número de mortes diárias causados pelo tabaco e pelas drogas, com constantes actualizações, faz com que se continue a assistir ao aumento do número de jovens que se iniciam no consumo de tais produtos.

A informação sobre a gripe aviária causou enormes prejuízos aos produtores e distribuidores de carne de galinha, sem que nem sequer se tivesse identificado uma única situação de contágio no nosso país. O mesmo tem acontecido com outros produtos, marcas de produtos ou mesmo serviços. A divulgação de alguma práticas menos adequadas na indústria da restauração em segmentos específicos como a comida oriental tem reduzido imenso o número de clientes nesse tipo de restaurantes, levando ao encerramento de alguns.

Não é por acaso que as grandes empresas, especialmente as cotadas em bolsa, possuem departamentos de informação que trabalham na divulgação dos resultados económico/financeiros bem como na promoção dos seus produtos de forma não publicitária, ou ainda na resolução de problemas que tenham surgido e sido alvo do interesse dos “media”. Da mesma forma, a CMVM (entidade reguladora dos mercados de capital, vulgo bolsas, em Portugal) e outras entidades congéneres por todo o mundo fiscalizam a informação, ou desinformação, que as empresas cotadas disponibilizam para o mercado em geral, aplicando elevadíssimas coimas aquelas que por via da desinformação influenciam ou são susceptíveis de influenciar o valor das suas acções em bolsa.

O poder da informação é assim enorme.

Um comentário favorável acerca de um produto de consumo, de um estabelecimento, de um serviço, pode fazer aumentar tremendamente o número de clientes ou consumidores. Um comentário desfavorável tem, normalmente, ainda efeitos mais amplos.

Se por um lado, as empresas necessitam de estar atentas aos conteúdos acerca das suas actividades que possam merecer a atenção dos “media”, os consumidores deverão ainda ter mais cuidado, porque não é inédito que a informação que é fornecida ao mercado tenha sido manipulada de forma a obter um determinado resultado.

Foi feito há alguns anos atrás um estudo em Portugal em que foram colocadas a teste cego três marcas de cerveja, todas elas conhecidas do grande público. Os resultados foram no mínimo surpreendentes. A líder de mercado foi na maioria dos testes classificada como a pior de todas, em paladar e demais parâmetros analisados. Contudo, quando as mesmas cervejas foram fornecidas com as devidas identificações, exactamente às mesmas pessoas que participaram no estudo, a líder já devidamente identificada pelo seu rótulo e marca, foi considerada pela esmagadora maioria dos participantes como a melhor.

A força da marca tinha desempenhado o seu papel. Os “media” também contribuem, voluntária ou involuntariamente, para esse fim.

Como consumidores temos de ter o cuidado de analisar se estamos ou não a ser levados a comprar determinados produtos ou marcas por impulso, apenas porque nos foi induzido essa mesma vontade de forma inconsciente mas efectiva.

Provavelmente, a maioria dos consumidores comprará, estupidamente, muitos produtos sem saber bem o porquê do seu próprio comportamento.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

COMPETÊNCIAS vs QUALIFICAÇÕES

A riqueza de um país é o somatório de todo o valor criado ou acrescentado com que cada individuo possa contribuir para a sociedade.

Semear uma semente e depois colher muito mais sementes ou frutos da planta que nasceu, que serão transaccionados por outros produtos ou por uma qualquer outra moeda de troca, será a forma mais simples e primitiva de criar valor, ou numa linguagem mais corrente, de acrescentar valor.

Criar uma ferramenta que pode semear muitas sementes ou colher muitos frutos de forma mais eficiente é outra forma de criar valor, por ventura mais vantajosa do que a primeira porque permite que a sua repetida utilização  contribua para a repetição da criação de valor.

Criar uma obra de arte é também uma forma de criar valor, ainda que com base na intangibilidade da mesma. Neste caso, o valor acrescentado poderá ser muito maior do que nos dois primeiros casos.

Desenvolver um novo conhecimento, científico ou não, que possa ser utilizado por outros indivíduos de maneira a criarem mais valor de forma repetida é ainda, quiçá, o processo com maior potencial para criar valor e riqueza colectiva.

Para que os indivíduos possam semear sementes, criar máquinas ou obras de arte e desenvolver novos conhecimentos, deverão possuir as “competências” devidas e necessárias.

Competência, numa definição muito livre, é o somatório do saber ou ter conhecimento sobre algo, mais o saber fazer algo aplicando esse conhecimento e, ainda, ter a atitude certa para o fazer da forma correcta.

É o desenvolvimento das competências que levam o homem e as sociedade a evoluir e a crescer. Sem aumento de competências será difícil que qualquer sociedade consiga fazer algo de diferente daquilo que já faz.

No processo de aprendizagem para se obter competências, utiliza-se a progressiva qualificação das pessoas como forma de se aquilatar da sua, supostamente, aquisição de competências. Assim, ter uma qualificação é na maioria das situações na sociedade sinónimo de ter também a correspondente competência. A licenciatura de um jurista deverá significar que conhecerá as leis e deverá ter a competência para as aplicar em defesa ou acusação de uma qualquer situação prevista nas mesmas leis. A obtenção da carta de condução deverá significar a existência da competência para conduzir um determinado tipo de veículo.

Porém, sabemos que nem sempre isto é verdade. Qualificação não significa necessariamente competência.

Este é um erro que poderá ser fatal para a economia. A escolaridade obrigatória até certos níveis de qualificação, como o 12º ano, não faz dos nossos jovens pessoas com mais competências. A atribuição de diplomas de equivalência a níveis de escolaridade por via da experiência não dá às pessoas competências que possam ser utilizadas para produzir mais valor.

O título, tal como o hábito para o monge, não faz de ninguém médico, arquitecto, engenheiro ou gestor.

A economia só progride se as pessoas, independentemente dos seus títulos e qualificações académicas, tiverem vastas competências que possibilitem a criação de elevado valor, por via da criação de novas soluções e de novos conhecimentos, esses sim potenciadores de desenvolvimento económico.

O valor acrescentado é tanto maior quanto maior for a dificuldade em produzir algo, quer seja produto, serviço ou combinação de ambos. E a maior dificuldade exige mais elevadas competências. Sem essas, nunca conseguiremos criar riqueza que possa ser distribuída e utilizada na criação de uma economia forte.

Infelizmente, e pior ainda, estupidamente, as políticas de qualificação nem sempre servem para o desenvolvimento e criação de competências. Por certo, não nos servirá de muito sermos todos doutores e engenheiros e não termos as competências necessárias nem para fazer nem para criar nada.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

ENDIVIDAMENTO POR RAZÕES ERRADAS

Governar um país é como governar uma empresa ou mesmo a nossa casa.

Todos sabemos que apenas conseguimos gastar o que ganhamos, isto é, o que gastamos não pode ser superior ao que ganhamos, a não ser que estejamos a contrair endividamento para cobrir esse excesso nos gastos.

O endividamento, quando utilizado para resolver questões de deficit causado pela diferença entre proveitos e custos, tem quase sempre uma forte implicação no futuro de quem o faz.

Se uma empresa, uma família ou mesmo um país utilizarem o endividamento como solução para eliminarem o deficit causado por uma situação corrente ou de contexto, mas que é resultante de uma situação sistémica, como por exemplo numa família, a perda de um emprego (corrente ou de contexto) mas por falta de competências (sistémica), o mais certo é que esse endividamento irá permanecer a longo prazo, porque a recuperação do emprego se adivinha difícil ou mesmo impossível. Neste caso, o melhor seria cortar imediatamente os custos para níveis suportáveis pelas receitas, o que nem sempre é viável de imediato.

O mesmo se passa com a governação dos países.

Neste actual contexto de crise global, em que temos assistido à redução do consumo da população e do investimento em geral, os governos têm vindo a sofrer fortes cortes nas suas receitas, devido à diminuição dos montantes cobrados pelos impostos sobre o consumo e o investimento.

Contudo, nos Estados com fortes políticas de apoio social às suas populações, os gastos com esses apoios e pelas mesmas razões contextuais da crise global, têm aumentado significativamente.

Temos assim que, por um lado os Estados estão a recolher menos impostos (redução da receita) e por outro estão a incrementar o apoio social (aumento da despesa), o que os obriga a utilizarem a ferramenta do endividamento, na forma de obrigações (títulos) e de outros veículos financeiros. Este endividamento é obtido no pressuposto de que será honrado na devida altura no futuro.

Se a situação que levou ao endividamento for de contexto e de curto prazo, o pagamento da dívida torna-se viável, na medida em que a recuperação da economia permitirá o rápido incremento das receitas (por via dos impostos).

Porém, quando um país utiliza o expediente do endividamento para resolver o problema de contexto, mas tem por detrás desse um outro que é sistémico, ou seja a falta de produtividade e competitividade que reduz a criação de valor e acumulação de riqueza, o pagamento desse mesmo endividamento torna-se doloroso e assume o carácter de um problema de longo prazo, possivelmente sem fácil solução à vista.

Quando a solução não vem do lado da receita, só poderá ser encontrada no lado da despesa, significando que o pagamento de tais dívidas irá ser feito pelo corte no consumo e pelo pagamento de elevados níveis de impostos das gerações vindouras, que terão de pagar a herança deixada pelo desequilíbrio causado no presente.

Assiste-se neste momento a este expediente por parte de muitos governos, que inequivocamente trará tremendas consequências num futuro próximo para as populações desses países, e que se prolongarão num futuro longínquo.

Muitas vezes, estupidamente por pura falta de visão ou excesso de egoísmo, pensamos apenas no presente e esquecemo-nos do futuro.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

RATINGS DOS PAÍSES

Como o endividamento público nos afecta .

Sabemos que o Estado não produz valor, pelo que tudo o que faz, fá-lo com recursos que têm a sua origem na valor que a população cria e que lhe é retirado na forma de impostos.

Infelizmente as despesas públicas, completamente suportadas pelos impostos que pagamos, ainda nos afectam de outras formas que não essa. Uma das formas em que nos afecta é através dos ratings do país para efeitos de financiamento externo.

Existem várias agências, supostamente independentes, que classificam os países de acordo com uma tabela. É frequente ouvirmos que um pais tem o rating de “triplo A” (AAA) ou de apenas B ou outro qualquer, não sendo a escala importante para o raciocínio que aqui pretendo deixar. Essa classificação é determinada em função de vários factores económicos e financeiros. As finanças do Estado, mais ou menos deficitárias, têm influência para o nível de classificação que se possa obter. Assim, Estados com economias fracas e com graves problemas de endividamento público não passam de ratings de baixo nível.

E como é que isso nos afecta? Nos juros do dinheiro que os bancos nacionais têm de pagar quando se financiam externamente. Quanto mais baixo o rating mais elevado o juro. Desta forma, quando as empresas ou os cidadãos se financiam juntos dos bancos, porque o dinheiro já vem com custos acrescidos para estes, acabam por ter de pagar mais pelos empréstimos que contraem. Assim, os custos, com a habitação e com o consumo que é financiado para a população em geral e com o investimento para as empresas, ficam mais elevados, retirando capacidade de compra e de investimento aos interessados.

A má governação pode-nos afectar economicamente de muitas formas, sendo que esta aqui analisada é das pouco mencionada por ser uma das menos sentidas de forma directa, como consequência da ineficácia dos governos e da própria incapacidade produtiva do país.

Os bancos também não se preocupam em esclarecer os seus clientes, por várias razões, sendo uma delas que quando os ratings do país melhoram e baixam os juros, deixando mais margem entre o preço de compra e de venda do dinheiro, os mesmos aproveitam para reter esse lucro para si  próprios. O inverso já não acontece, como naturalmente se compreenderá.

Estupidamente, esta como outras verdades, passam-nos ao lado.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A FUNÇÃO SOCIAL DAS EMPRESAS

Quando a ganância das partes destrói o que cria valor.

Muito antes de se falar na responsabilidade social das empresas, políticos e académicos de várias disciplinas falavam já da função social das empresas.

Se as empresas existem como forma de providenciar retorno económico a quem investe, a verdade é que a sua abrangência económica não se fica por aí. As empresas providenciam também condições económicas a quem nelas trabalha em particular e à sociedade em geral, por via do valor criado e distribuído, em última análise através dos impostos e da forma como os mesmos são distribuidos.

Na realidade, e cingindo-nos apenas ao aspecto económico desta função social, porque as outras, juntamente com a económica, fazem parte de um pacote complexo e amplo a que se convencionou chamar de Responsabilidade Social das Organizações, pressupõe-se que as empresas distribuam riqueza a três níveis: aos accionistas ou investidores, por via de retorno sobre os investimentos efectuados; aos trabalhadores, através das compensações monetárias e outras regalias sociais que lhes são dadas em troca do trabalho; à sociedade, através dos impostos sobre os rendimentos e outros que são incorporados nos rendimentos que o Estado aufere e aplica na sociedade.

Enquanto estes interesses forem satisfeitos, na devida medida e proporção da sua importância e da sua participação, as empresas poderão e deverão sobreviver a médio e longo prazo. O problema põe-se quando uma das partes interessadas pretende obter a esmagadora maioria do valor criado pelas empresas, sobrepondo-se aos interesses das outras partes.

Quando os accionistas das empresas pretendem reter para si quase todos os resultados das empresas, de resto como se tem vindo a poder observar durante as últimas décadas com o fenómeno da globalização e o consequente comportamento dos mercados accionistas e afins, as outras partes criam defesas, nem sempre eficazes, para contrariar essa tendência. Infelizmente, a história recente mostra-nos que muitos casos de desmesurada ambição e ganância da parte dos accionistas levou a que as respectivas empresas entrassem em colapso económico e financeiro. Esta será a crítica mais comum ao sistema capitalista, tanto por quem a ele se opõe como até por alguns adeptos do mesmo.

Por outro lado temos que por vezes os trabalhadores, à semelhança de alguns accionistas, também vêem as empresas como um simples veículo para obterem dinheiro, não considerando que esse mesmo dinheiro tem de vir do resultado da criação de valor. Compensações exageradamente ambiciosas, em troca de participações demasiadamente reduzidas na criação de valor levam consequentemente as empresas ao esvaziamento económico e financeiro. Esta realidade tem tido mais expressão ultimamente nas hierarquias de topo mas, contudo, as bases das estruturas hierárquicas das empresas compostas pelos operários ou outros trabalhadores menos qualificados e com menores compensações não estarão isentas de críticas. Qualquer que seja a função ou a hierarquia dentro de uma empresa que não produza no final do dia o suficiente para pagar os seus custos, directos e indirectos, e ainda deixar uma margem adequada para outros custos, impostos e lucro, será com toda a certeza inconveniente para a saúde da mesma empresa. Infelizmente, esta realidade, pelas mais diversas razões e culpas, não é devidamente entendida pela esmagadora maioria das pessoas.

Finalmente, o Estado, também como parte interessada na função social de base económica das empresas, nem sempre cumpre com a sua parte da melhor forma. A asfixia abusiva imposta às empresas por via de impostos e taxas sobre os mais diversos aspectos da sua actividade, não só sobre os lucros finais mas criando custos adicionais às empresas por via de obrigações sobre os trabalhadores, o ambiente, a condições de trabalho, a movimentação e circulação, as transacções comerciais, as instalações e segurança e outros factores de custo, deixa as empresas sem margem de manobra para poderem produzir produtos e serviços a custos que sejam competitivos para o mercado. O Estado, muitas vezes apenas vê as empresas como uma fonte de receita e não como veículos criadores de valor para a sociedade, ignorando que para que as mesmas funcionem e sejam viáveis necessitam de condições estruturais e de suporte que permita a criação de excedentes de valor, que serão distribuídos pelas diferentes partes interessadas ou reinvestidos em novas oportunidades de criação de valor.

Assiste-se neste momento a uma luta empertigada entre estas três partes, interessadas na função económica das empresas, com abusos constantes de qualquer uma delas. Quando se pretende retirar de dentro de algo mais do que esse mesmo algo contém, o mais certo é que o referido algo se quebre. As empresas, infelizmente devido a estes factores endógenos e a outros exógenos, como o enfraquecimento dos mercados o que também é uma consequência da condição criada, não conseguirão sobreviver muito tempo e deixarão de existir. No dia em que os investidores deixarem de obter retorno para os seus investimentos que compense o risco que assumem ao aplicar o seu capital num ambiente de incerteza como se vive presentemente, as empresas deixarão de nascer e a sua função cessará. O que será então das outras partes interessadas? Estupidamente, tal como os vírus, quando o hospedeiro morre, morrem também. Como pode esta verdade ser ignorada? 

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

ONDE ANDA O CAPITAL?

O risco dos depósitos nunca foi tão grande

Dizem as estatísticas que nunca se assistiu a um tão crescente número de aforradores  a colocarem as suas economias em depósitos a prazo nos bancos comerciais., sendo que o total de capital em tais tipos de depósitos atinge valores record para os últimos anos.

Por um lado, parece que a descida da rentabilidade dos certificados de aforro está a fazer deslocar as poupanças mais conservadoras do fundos do Estado para os depósitos a prazo das entidades bancárias. Por outro lado, a população em geral está mais contida no que diz respeito ao consumo e ao investimento, o que leva a que mais gente tenha excedentes monetários que são guardados para posteriores utilizações.

Mas se o dinheiro está nos bancos, porque não é este enviado para a economia?

A verdade é que os bancos estão a reter esses capitais, depositando-os nos bancos centrais de onde apenas obtêm juros mínimos em vez de os utilizar para financiar as actividade económicas, isto é, as empresas e até mesmo o investimento particular. Isto, porque de repente, os bancos ficaram adversos ao risco.

Os exageros do passado levaram muitos bancos a criar grandes carteiras de incobráveis. Muitos investidores fizeram o que todos sabemos que é demasiado arriscado de se fazer: contraíram financiamentos com a banca para investir nos mercados accionistas, muitas das vezes comprando acções dos mesmos bancos que os financiaram.

A queda das bolsas fez com que as acções tenham descido para valores percentuais em muitos casos de apenas um dígito em relação aquilo que eram no momento da compra.

Agora, pendurados nesses empréstimos concedidos, os bancos não vêem grandes hipóteses de vire a recuperar o dinheiro que emprestaram. Contudo, ao longo dos últimos anos esgotaram-se em prémios e salários milionários na expectativa de virem a capitalizar os juros de tais financiamentos.

Quando se consome o que se tem com base na expectativa do que se há-de vir a ter no futuro, mas que é incerto, corre-se o risco de se acabar mal.

Apesar das enormes injecções de capital nos mercados financeiros que os governos de muitos países fizeram, o “buraco” da gestão danosa das últimas décadas é quase inquantificável, o que leva a que a suspeita de que a saúde do sector financeiro é ainda muito débil seja uma realidade. Existe mesmo a possibilidade de que grandes derrocadas possam ainda acontecer, incluindo bancos de grandes dimensões, impensáveis de estarem sujeitos a tais ameaças.

Quando alguém me pergunta qual o banco mais seguro, por graça costumo referir que é o “colchão”. Mas a verdade não anda longe se dissermos que depositar as poupanças em contas mesmo a prazo, com capital e juros garantidos por contrato, em qualquer banco comercial, é tão arriscado como emprestá-lo ao “vizinho” que não conhecemos de lado nenhum.

Se a economia não recuperar, por via da produtividade e do necessário consumo, e se forem criadas pressões externas sobre a economia, como o aumento do preço da energia, o sector financeiro poderá vir a sofrer pressões que potencialmente serão danosas para o sector financeiro, não se sabendo até onde poderá este aguentar tais vicissitudes.

O risco em ter dinheiro nas mãos de outrem nunca foi tão grande como agora.

sábado, 12 de setembro de 2009

O MELHOR NEGÓCIO DO MUNDO

Quando se produz algo a partir de quase nada.

Em qualquer negócio que produza um produto ou serviço, teremos sempre de considerar a existência de entradas (inputs) e de um qualquer processo que transforme as entradas em saídas (outputs). Assim, quem quiser transformar sementes em produtos agrícolas, terá de tratar a terra, semear as sementes, adubar, regar, curar e colher o produto final. A este processo de transformar sementes em produtos agrícolas, que serão vendidos por um montante superior à soma do custo das sementes e do custo da mão de obra e dos outros produtos utilizados, chama-se “criação de valor”. O mesmo se passa em qualquer indústria transformadora onde se utiliza matéria-prima, acessórios, produtos de consumo e mão de obra, bem como em qualquer serviço onde se utiliza conhecimento, mão de obra e produtos de consumo.

No sector financeiro é suposto que a principal “matéria prima” utilizada seja o dinheiro, em notas e moedas. Seria suposto que os bancos angariassem a sua “matéria prima” principal, o dinheiro, através da cativação de depósitos em moeda feitos por clientes, a quem pagariam uma determinada “renda” (juro) pela utilização do dinheiro e o utilizassem para emprestar a outros clientes por uma “renda” (juro) maior, fazendo da diferença do juros pagos e dos juros recebidos o seu lucro grosso. Naturalmente que a este meio de criar “valor acrescentado” há que adicionar os proveitos que advém da cobrança de custos dos serviços prestados, como emissão de cartões e manutenção de contas.

De facto, não acontece assim tão literalmente. Principalmente no que se refere à utilização da matéria prima utilizada, o dinheiro. Por cada euro depositado os bancos emprestam muitas vezes mais euros, chegando a onze vezes e meia no caso do mercado nacional.

Em nenhuma indústria se consegue multiplicar as entradas (inputs) de forma tão miraculosa. De uma dada quantidade de matéria prima não se consegue retirar mais do que aquela que existe. No caso da indústria financeira, o milagre da multiplicação é uma realidade. Por isso, os bancos poderiam até emprestar dinheiro a juros mais baixos do que aqueles que pagam aos depositantes que conseguiriam ainda produzir lucros.

A utilização abusiva deste mecanismo de criação virtual de dinheiro levou a muitos exageros, em que muitos participantes e no processo foram beneficiados com prémios e salários exorbitantes retirados de onde não existe “nada”. Com a crise criada nos EUA pelo sub-prime, e pelas implicações do mesmo nas bolsas de todo o mundo, os bancos viram-se de repente sem a possibilidade de recuperar o dinheiro virtual que tinham injectado na economia, sob o qual tinham assumido compromissos, mas para os quais já não possuíam reservas suficientes para honrar esses mesmos compromissos.

A injecção de capital que os governos fizeram nos mercados financeiros foi para tapar esses buracos que ameaçavam os bancos de ruptura de “stock” de capitais para cumprir com os seus compromissos perante os clientes depositantes.

Como pode então um negócio que produz “outputs” sem utilizar “inputs” vir a ter problemas? A resposta é simples: retira-se do negócio mais do que aquilo que ele produz.

A aparente facilidade com que se criava, e ainda se cria, dinheiro vindo do nada fez com que alguns intervenientes pensassem que o processo não tinha limites.

A regulação e a fiscalização deverão ser revistas para que abusos como os que aconteceram durante as últimas décadas não possam acontecer no futuro com impactes nefastos na economia em geral e no bolso dos contribuintes em particular.

 

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A BANCA E A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

A banca em geral, é por si própria e intrinsecamente, um conflito de interesses.

Os bancos, ao contrário de muitos negócios nos dias de hoje, tem forçosamente de ter uma visão de longo prazo. Compreende-se facilmente esta necessidade: se o cliente vai pagar durante os próximos vinte anos o financiamento que pediu emprestado para comprar a casa , será bom que tanto o cliente como o banco existam por mais, no mínimo, vinte anos.

Esta perspectiva de longo prazo de muitos dos negócios financeiros, a qual também serve para capitalizar resultados sustentáveis, deveria ter forçosamente algum impacte nas politicas negociais do sector financeiro, de forma lata.

Dizia-me um director de um banco que os clientes obrigam muitas vezes os bancos a inovarem. O poder do capital é enorme, como referia ele, tendo os bancos por vezes de criarem produtos específicos para necessidades específicas de alguns clientes, como por exemplo um fundo de uns milhões de euros para uma igreja e respectiva comunidade de fieis numa carteira de acções que não incluísse negócios como a produção e venda de armas e material de guerra ou a produção de cereais transgénicos.

A força dos muitos milhões de euros que se adivinhavam para entrar neste fundo de investimentos fez com que o banco juntasse uma carteira de acções em conformidade com os requisitos.

Compreende-se. O cliente justificava e a perspectiva de longo prazo do banco também.

A questão da sustentabilidade ambiental tem, contudo, criado um novo problema para os bancos.

Caso a ameaça do degelo dos pólos se venha a concretizar como resultado do efeito de estufa que a constante poluição da nossa atmosfera por indústrias, viaturas e outras fontes poluidoras está a provocar, sendo que esse evento pode provocar fortes transformações na geografia dos continentes, com enormes impactes na localização de populações, exploração de solos e, consequentemente, na politica e na economia, o negócio de longo prazo dos bancos corre sério risco de ser fortemente atingido.

Então, porque continuam os bancos a financiar negócios que poderão cavar a própria sepultara do sector bancário?

Será que os lucros de curto prazo se sobrepõem a todos os outros interesses de longo prazo?

Porque não utiliza o sector bancário o seu enorme poder de “lobby” para provocar mudanças nas políticas governamentais a nível global para que se eliminem as indústrias poluentes e outras fontes de destruição do ambiente?

Estas são questões que não parecem ter resposta, de forma imediata, mas que a médio prazo vão ter de ser respondidas ao público em geral.

A visão do lucro rápido e fácil criou a crise do sub-prime.

O que nos acontecerá se a visão meramente economicista de curto prazo continuar a prevalecer no sector financeiro numa situação de mudança climática global e grandes dimensões?

Nunca saberemos se da próxima vez a população mundial terá disposição e capacidade para pagar mais uma crise financeira que as mudanças climatéricas rápidas ou de médio prazo possam trazer ao mundo. O futuro o dirá!

sábado, 5 de setembro de 2009

AUMENTAR O CONSUMO INTERNO AJUDA A ECONOMIA? NEM SEMPRE!

O POTENCIAL ERRO DO AUMENTO DO CONSUMO INTERNO

Em época de eleições, ouvem-se muitas vozes a defender a teoria de que o aumento do consumo interno servirá para fazer crescer o PIB e melhorar a economia. Assim, vários políticos propõem que se baixem os impostos, directos e indirectos, que se aumentem os ordenados e os subsídios de reforma, desemprego e outros, tudo com o objectivo de deixar mais dinheiro nas mãos das pessoas de forma a que o possam despender na compra de bens de consumo e outros e, assim, fazer subir o PIB.

O primeiro, e grande, beneficiário do aumento do PIB é o Estado que vê aumentada, dessa forma, a base tributária em que faz incidir os mais diversos impostos. O aumento do PIB é sempre o bom negócio para o Estado.

Mas será que a subida do PIB com base no aumento do consumo é bom para a economia nacional? Não necessariamente.

Vejamos primeiro de onde vem o dinheiro que irá parar ao bolso das pessoas por via dos aumentos de salários, subsídios e outras formas?

Se a fonte desse dinheiro for de origem interna, quer isto dizer, da criação de valor interno por via da produção de produtos e serviços que são exportados ou substituem outros importados, então estaremos perante uma posição potencialmente favorável. Se a fonte do dinheiro for outra que não a interna, isto é, se for de origem externa por via do investimento e do financiamento, estaremos perante um potencial problema. O investimento externo tem sempre um carácter temporal limitado e mais tarde ou mais cedo será retirado, juntamente com os lucros obtidos, pelo que a fonte é temporária. O financiamento externo implica juros e a necessidade do devido pagamento, dentro de prazos determinados. Assim, a fonte do dinheiro é importante na medida que pode comprometer o futuro.

Depois, teremos de ver para onde vai o dinheiro. Se o consumo for de produtos ou serviços nacionais, produzidos principalmente com matérias primas e mão de obra interna, esse consumo estará a alimentar a criação de valor que será mantido na economia do país e poderá servir para fomentar o auto-crescimento desta.

Porém, se o dinheiro for utilizado no consumo de produtos e serviços adquiridos além fronteiras ou com uma forte componente externa, estaremos a fazer com que os recursos monetários existentes estejam a sair do circuito interno e, consequentemente, a perder-se para outros.

Assim, o consumo apenas deve ser fomentado ser for direccionado a produtos e serviços cujas matérias primas, componentes e mão de obra sejam maioritariamente internos, de forma a reter o capital dentro das fronteiras económicas nacionais. Fomentar o consumo de produtos e serviços importados é o mesmo que cavar a sepultura da própria economia, na medida em que se perdem recursos próprios ou, o que ainda é pior, emprestados que terão de ser pagos com juros, mais cedo ou mais tarde.

Desta forma, seria bem melhor se se fomentasse o desenvolvimento de condições favoráveis à criação de valor acrescentado interno à economia do pais, com base em matérias primas, conhecimento e mão de obra locais.

Dito isto, começa a ser fácil perceber onde deverão incidir as políticas de desenvolvimento da nossa economia. Exactamente nas matérias primas (transformação), conhecimento (I&D) e mão de obra (competências) nacionais. 

Se olharmos para a maioria do que compramos no dia-a-dia reparamos que quase nada é feito em Portugal. A comida, os combustíveis, o vestuário, as viaturas, as ferramentas, os medicamentos, os electrodomésticos, as matérias primas para a industria e construção, etc., etc. Ou será que esta evidência é “estupidamente” incompreensível.