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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

POUPANÇAS E CRESCIMENTO ECONÓMICO

O desprezo pelas poupanças particulares afecta a economia de forma negativa.

A crise continua a ter impactes negativos na sociedade. A perda de valor das acções das empresas cotadas em bolsa tem efeitos na economia que vão para além dos prejuízos que tais desvalorizações possam causar directamente aos investidores.

Os dados mostram que o património bolsista dos particulares em 1998 equivalia a 172% do Produto Interno Bruto (PIB), tendo baixado para 133% em 2007 e para 124,6% em 2009.

Esta última perda de valor no património particular nacional equivale a cerca de dezassete mil milhões de euros, o que daria para financiar por completo as duas maiores obras nacionais, o novo aeroporto e o TGV.

Contudo, para além dessa perda tangível de valor, que apenas será recuperável a longo prazo com a recuperação da confiança e da valorização dos mercados bolsistas, existem outros impactes que nos podem afectar a todos em geral.

As valorizações bolsistas são na grande maioria dos casos aproveitadas pelos investidores para obterem suficiente capital para investir muitas vezes em actividades directa ou indirectamente produtivas, que contribuem positivamente para o PIB. As perdas verificadas, não só na redução ou eliminação dos rendimentos mas também do próprio capital investido no mercado bolsista contribui para a eliminação da capacidade de investimento e para a criação de um ambiente adverso ao risco associado ao investimento.

Por outro lado, os investidores reagem ao risco bolsita desviando as suas poupanças dos mercados de capitais para outros produtos financeiros sem risco, como Títulos do Tesouro ou depósitos a prazo, os quais oferecem rentabilidades muito inferiores, por vezes abaixo da taxa de inflação, o que acrescenta pouco valor a quem possui poupanças.

Mas as crises nos mercados de capitais afectam ainda directa ou indirectamente as taxas de juros centrais e as cotações monetárias, o que pode ter outros impactes nefastos na economia.

As poupanças são, como vimos, uma forma de retenção de riqueza, quando devidamente salvaguardadas, mas também uma forma de financiamento e apoio ao investimento produtivo, quando praticado dentro das regras de sã gestão e coexistência no mercado.

A especulação bolsita, traduzida em crescimentos desmedidos do valor das acções, altamente inflacionadas e em pouco suportadas pela actividade produtiva em si, tem o risco de criar falsas “bolhas” de riqueza que mais cedo ou mais tarde se convertem num esvaziamento desse mesmo valor com prejuízos elevados para muitos aforradores.

Estes ciclos de crescimento bolsistas (bull markets) têm geralmente impacte positivo no crescimento económico das economias nacionais, regionais ou mesmo global. Mas, como poderemos facilmente deduzir, e temos a prova recente, não são sustentáveis a longo prazo, obrigando a reajustamentos na economia com impactes negativos nos PIBs dos países.

A destruição de poupanças (riqueza acumulada resultante de esforço dispendido) é um dano irremediável a qualquer economia. Políticas de incentivo à assunção de risco desmedido com o objectivo de cativar economias particulares para criar falsos crescimentos da economia a curto prazo, parecem-nos estupidamente inconscientes e danosas a longo prazo, para todos em geral.

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