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terça-feira, 20 de outubro de 2009

A CRISE NÃO É PARA TODOS

Estamos a assistir ao regresso dos prémios chorudos no mundo financeiro. 

O regresso dos prémios milionários aos gestores de topo das grandes empresas financeiras pode colocar algumas questões aos cidadãos contribuintes.

Depois da crise financeira provocada essencialmente pelos produtos tóxicos (sub-prime e outros de elevado risco) e dos tremendos prejuízos a eles associados que levaram muitas instituições financeiras à quase ou mesmo falência, sendo que algumas foram salvas pela intervenção dos Estados, ou por outras palavras, pelos contribuintes, o mundo financeiro voltou aos lucros, nalguns casos ainda mais elevados do que no melhor ano antes da crise, 2007.

Com a desculpa da crise financeira, os bancos viram as taxas de referência baixar em todo o mundo para valores mínimos. Com base neste contexto, os bancos aproveitaram para fazer subir as suas margens (spreads) aos seus clientes, o que lhes trouxe margens de lucro acrescidas. Da mesma forma, e por força do controlo necessário para evitar créditos mal parados, muitas operações passaram a estar seguras pelos próprios Estados.

Entre nós, isso aconteceu com o programa PME-Investe, que permitiu a muitas empresas com dívidas dispersas à banca substituírem as mesmas por uma única e consolidada conta, sendo esta garantida parcialmente e objecto de bonificação pelo Estado.

As empresas poderão ter ganho alguma coisa com a ligeira redução da taxa de juros aplicada, sendo que nem sempre assim aconteceu, mas os grandes “ganhadores” foram os bancos que viram os seus spreads aumentar por força das condições do programa e viram o seu risco reduzir-se para metade ou, também em alguns casos devido a subtis engenharias, para quase nada.

O facto é que muitos apoios dados pelos Estados à economia, directamente às empresas ou aos consumidores, acabaram indirectamente nos cofres das entidade financeiras, juntando-se ainda às ajudas (donativos) que os mesmos Estados tinham dado directamente às referidas entidades.

Não é de admirar que os lucros da grande maioria de entidades financeiras tenha de repente atingido valores nunca pensados, até mesmo acima do que de melhor já tinha acontecido no passado.

E nada melhor do que retribuir os gestores de topo dessas mesmas entidades com prémios, indexados aos novos êxitos, como recompensa pelo excelente trabalho desenvolvido na recuperação dos lucros perdidos. Fica sempre a questão sobre os prejuízos causados pela má gestão de tais gestores e que apenas foram estupidamente pagos pelos contribuintes.

Claro que sob a ameaça de podermos perder tudo, qualquer um de nós aceita contribuir para salvar a situação de quase falência do sistema financeiro. Mas porque não nos é agora devolvida a ajuda que demos, enquanto contribuintes, para salvar as entidades financeiras?

Parece que acabamos por pagar mais um grande “imposto” para benefício de apenas uns poucos. Estupidamente, fomos mais uma vez comidos por “parvos”.

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