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domingo, 11 de outubro de 2009

A RELAÇÃO ENTRE A EDUCAÇÃO, A CRIMINALIDADE E A ECONOMIA.

Estaremos a caminho da “barbarização” da sociedade?

A falta das competências que permitam adquirir formas de ganhar a vida pelo trabalho leva muitas pessoas sem qualificações e competências a viverem de forma equivalente ao estado primitivo do homem recolector, só que actualmente a colheita é urbana e sobre os bens de outrem.

Um recente estudo da Northeastern University (EUA), utilizando os censos e outras informações do governo americano, analisou as experiências nos empregos, nos locais de trabalho, na paternidade e no crime dos jovens que desistiram da escola. Os resultados apontam para a existência de uma relação directa entre a desistência na escola secundária e a criminalidade.

Estes dados, apesar de se referirem aos EUA, serão por ventura coincidentes com os restantes países considerados desenvolvidos, onde se inclui o nosso.

Sem que surja como uma surpresa para muitos, este estudo, como outros feitos anteriormente, vem efectivamente retirar qualquer dúvida sobre a existência de uma forte exclusão ao nível económico dos menos literados e qualificados que se converte em exclusão social e em criminalidade.

Algumas décadas atrás, os jovens que saiam da escola no final do ensino secundário, ou até mesmo antes, encontravam facilmente emprego nas indústrias transformadoras e na construção civil, como fuga à agricultura, auferindo salários que lhes permitiam ter um nível de vida aceitável e despreocupado.

A situação mudou nas últimas décadas. As indústrias transformadoras com mão de obra muito intensiva têm vindo a deslocar-se para outras regiões com mão de obra mais barata (América do Sul, Europa Central e Ásia). Os postos de trabalho que vão restando, como os serviços, necessitam de mais competências e qualificações, sendo que também não são em tão grande número que consigam absorver toda a mão de obra desqualificada que foi crescendo com a deslocalização, primeiro das grandes indústrias e, depois das outras utilizadoras ainda de alguma mão de obra de vulto.

Esta situação tem contribuído para que muitos jovens, principalmente do sexo masculino, que também deixam a escola mais precocemente, tenham de sobreviver de trabalhos precários e temporários, dificilmente atingindo situações de emprego de longa duração. Mas outros ainda há que nem trabalho conseguem obter, pelo que se dedicam a actividades ilícitas e à criminalidade, desde idades muito baixas, inseridos em ambientes familiares precários e inseguros.

É normal que quem não consiga ganhar o seu sustento tente colher o mesmo de outra forma. Os nossos antepassados longínquos sobreviveram durante milhões de anos colhendo o que a natureza lhes proporcionava. Nos dias de hoje a natureza é urbana e os bens possuem legítimos donos. Assim, num processo de “barbarização” das sociedades ocidentais, assiste-se ao aumento da criminalidade como consequência da falha dos sistemas económico e social que não criam formas de providenciar trabalho nem fornecem qualificações e habilitações que sustentem o desenvolvimento económico para toda a população.

Populações empobrecidas e desqualificadas fornecem mão de obra mais barata para actividades primárias. Populações altamente qualificadas e ricas não se sujeitam à precaridade e à insegurança. O constante afastamento destes dois grupos pode ter graves consequências nas sociedades futuras. Estupidamente, as visões unilaterais deste problema poderão obstruir a tomada de decisões adequadas, contribuindo potencialmente para criar verdadeiras rupturas nas formas económica e social que conhecemos hoje.

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