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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

INDIVIDUALISMO vs COLECTIVISMO

Na natureza podemos encontrar várias formas de organização social, que se colocam em extremos opostos.

As formigas estão organizadas de forma colectiva, com uma estrutura hierárquica e organizacional bem definida e imutável (não existe inovação nem revolução). As cigarras vivem sozinhas, separadas dos restantes elementos da mesma espécie, não possuindo uma estrutura social. Colectivamente (as formigas) ou Individualmente (as cigarras), ambas as espécies conseguem sobreviver, não sei precisamente desde quando, mas arriscamo-nos a dizer que para lá de um milhão de anos.

Mais recentes na vida do planeta Terra, os "suricatas" (há quem erradamente lhes chame cães da pradaria) tem uma estrutura organizacional, hierárquica e social muito bem definida, vivendo em perfeito regime colectivo, o que lhes garante a sobrevivência nos hostis ambientes africanos. Por outro lado, as "chitas" vivem isoladamente, longe das da sua espécie, num perfeito regime individualista, mantendo também a sua sobrevivência nos mesmos ambientes africanos.

Entre estes dois extremos podemos encontrar outras "misturas" com menor ou maior tendência para um dos lados ou extremos.

Se pensarmos na nossa sociedade, poderemos com um reduzido risco dizer que o "homem" se deverá ter organizado de forma colectiva logo nos primórdios da sua existência, à semelhança dos seus parentes primatas, e como ainda podemos ver nas tribos indígenas do Amazonas ou de Papua - Nova Guiné.

Este regime colectivo de organização da sociedade humana assenta na partilha dos bens e conhecimentos, como também na partilha das responsabilidades e obrigações. São regimes colectivos, onde a independência individual é sobreposta pela igualdade entre pares, tanto nos direitos como nos deveres. A hierarquia existente é presente mas não imposta de forma extrema. O direito à opinião e participação para o "bem comum" é igual para todos.

Assim, poderá ser correcto dizermos que o homem tem uma forte tendência histórica para viver de forma colectiva, em sociedade, onde a igualdade tenderá a sobrepor-se ao individualismo ou, nalguma extensão, à liberdade individual.

Porém, durante os últimos séculos, desde a revolução industrial em termos económicos, e a revolução francesa em termos sociais/políticos, temos vindo a assistir nos países do ocidente a uma maior tendência para se valorizar o individualismo e a liberdade individual, apesar das tentativas contrárias de Henkel e Marx (entre muitos defensores do colectivismo).

No século passado, Hayek e Friedman (entre outros) defenderam a liberdade individual como ponto de partida para uma sociedade justa, onde cada um tem direito a ser diferente em função do seu esforço e contributo para a sociedade, sendo que essa sociedade se manifesta num mercado verdadeiramente livre.

Assim, do lado do individualismo teremos alguns princípios dogmáticos como: liberdade de escolha, liberdade de acção, comercialização e movimentação de pessoas e bens, exaltação do indivíduo, do corpo, do sucesso profissional e económico, e liberdade política e económica.

Por outro lado, o colectivismo assenta em alguns dogmas como: participação colectiva de todos, igualdade de direitos e deveres, partilha de resultados, e participação cívica e política.

Aceitando estes princípios como correctos, poderemos então compreender como eles se reflectem na nossa sociedade e na economia.

No lado do Individualismo aceita-se forças políticas diversas, que representem os mais variados interesses, podendo o poder ser partilhado. No lado do Colectivismo aceita-se a participação no partido que represente a maioria, sendo que é a maioria que tem o poder absoluto.

A liberdade de escolher tudo o que se relacione com o indivíduo, como profissão, formação académica e profissional, casa, carro, etc. é típico da filosofia individualista. No lado da filosofia colectivista, o interesse colectivo (do todo) sobrepõem-se às preferências e interesses dos indivíduos em todas essas áreas.

O mercado livre e o capital (como no capitalismo e no neo-liberalismo) são o resultado da aplicação do ideal individualista. O Estado intervencionista e social (social-democracia, socialismo e comunismo no seu extremo) resulta do ideal colectivista.

Se ao individualismo se associa a direita política e ao colectivismo a esquerda política, ficam por responder alguns comportamentos das mesmas correntes políticas, tanto de uma como de outra.

Por exemplo, porque é que o casamento gay (liberdade de escolha sexual individual) não é defendido pela direita mas sim pela esquerda? Porque razão a esquerda pareceu mais preocupada com a potencial queda do sistema financeiro aquando da recente crise do sub-prime do que a direita, se se pretendia apenas garantir os benefícios individuais dos depositantes contra os custos colectivos para os garantir?

Os paradoxos parecem ser bastantes, o que torna impossível para o cidadão comum compreender certas atitudes e acções políticas que se reflectem directamente na nossa sociedade e economia.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A IMPORTÂNCIA DO IDE

Portugal apresentou em 2008 uma das mais baixas taxas de investimento directo estrangeiro, 59%, ficando consideravelmente abaixo da média europeia, que foi de 74%, segundo um estudo divulgado pela Ernst & Young.

O estudo revela que grande parte dos investimentos estão concentrados na área da produção, o que leva a que a média de postos de trabalho criados em Portugal por cada projecto tenha sido de 157, muito acima da média europeia de 70.

Sabendo que o nosso pais já não beneficia do grande diferencial no custo de mão-de-obra que existia há umas décadas atrás, tendo sido substituído nessa matéria pelos países do leste europeu e asiáticos, esta situação poderá ser preocupante na medida em que terá tendência a desaparecer a curto prazo. Aparentemente, a procura de Portugal para investimentos na área da produção, com especial incidência na indústria automóvel, será uma consequência da existência de mão-de-obra suficientemente qualificada e produtiva. Contudo, e olhando para o que acontece noutros países da Europa e até nos próprios EUA, o investimento directo estrangeiro tem vindo a concentra-se nas áreas tecnológicas e de elevado valor acrescentado, nomeadamente mais nas áreas dos serviços especializados do que nas indústrias produtivas.

O IDE funciona, em termos macro e de balança de pagamentos do país, como a exportação de bens de consumo, injectado capital na economia. Com uma balança de pagamentos deficitária e com uma dívida externa que já ultrapassa o valor do PIB, o país e os seus governantes deveriam olhar para este assunto com muito mais apreço e cuidado.

Mas o IDE poderá trazer ainda mais ao país do que uma injecção externa de capitais. Potencialmente trará consigo tecnologia de ponta, novos conhecimentos e competências e novas oportunidades para desenvolvimento de outros negócios ao nível interno da própria economia.

Para aumentar o investimento directo estrangeiro no nosso país teremos de nos assegurar que foram criadas as condições que poderão atrair o mesmo tipo de investimento, nomeadamente regulamentação laboral, fiscal e administrativa adequada bem como mão-de-obra altamente qualificada, especialmente nas áreas tecnológicas de rápido desenvolvimento, como as TIC, nanotecnologia, biotecnologia e outras.

As empresas internas poderão também contribuir para o aumento do IDE, por via de parceiras tecnológicas e de financiamento, mas o seu impacte será sempre reduzido quando comparado com o papel do Estado, que deverá criar as condições propícias ao investimento, tanto externo como mesmo interno. A atractividade do país mede-se pelo ambiente (externo) do mesmo e não apenas pelo ambiente (interno) de uma ou outra empresa.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A CEGUEIRA DO FISCO

A actual atitude e comportamento do fisco para com os contribuintes tem feito com que as empresas e gestores tenham vindo a assumir, também eles, atitudes e comportamentos que em muito prejudicam a economia.

A crescente perseguição do Estado aos gestores de empresas com dívidas para com o Estado, por via do IRC, IVA e descontos para IRS e para com a Segurança Social, tem alterado a atitude e o comportamento de muitos gestores quanto à definição das suas prioridades de curto prazo, o que acaba por ter repercussões no longo prazo.

Muitos administradores e gerentes de empresas já interiorizaram que têm primeiro de pagar ao Estado e à Segurança Social do que a empregados e fornecedores, se querem manter os seus bens próprios a salvo.

Assim, para além dos empregados e fornecedores, que acabam muitas vezes por assumir os custos de situações de crise das empresas, são os próprios investimentos geradores de lucros e de sustentabilidade económica das empresas a médio e longo prazo que ficam em risco de se concretizar.

Se por um lado temos de ter empresas saudáveis, bem geridas, cumpridoras dos seus deveres e que joguem o jogo de mercado de acordo com os princípios correctos, por outro lado temos de distinguir entre aquelas empresas que passam por situações económicas e financeiras difíceis, vítimas das situações de contexto de um dado momento e outras que não seguem as boas práticas da igualdade e da livre concorrência e têm atitudes desrespeitadoras dos seus deveres e obrigações.

A estas últimas, e de forma directa também aos seus responsáveis quando assim for provado, deve o Estado ter a mão suficientemente dura para punir irregularidades e abusos.

Mas medir todas as empresas e todos os gestores pela mesma bitola, sem preocupação em compreender as causas directas que levaram aos incumprimentos, sendo que em alguns casos as mesmas estão relacionadas com incumprimentos do próprio Estado, será ter uma visão demasiado curta do impacte que o estrito cumprimento das regras penalizadoras pode ter na própria economia a médio e longo prazo.

Começa a ser frequente assistir-se ao encerramento de micro e pequenas empresas e à recusa em se fazer novos investimentos com base na rejeição dos investidores e gestores ao risco inerente à atitude do Estado, evitando-se assim os potenciais impactes que a mesma possa ter na actividade das empresas.

A eliminação do tecido empresarial, numa economia de mercado aberta e livre, por via da criação de aversão ao risco nos empresários e potenciais empreendedores é matar a própria economia e, consequentemente, a fonte dos recursos que alimenta o Estado, colocando-o também desta forma em perigo.

Muitas vezes assistimos a posições extremistas e de cegueira na aplicação das regras e da autoridade que, estupidamente, são mais prejudiciais do que benéficas para a sociedade.