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terça-feira, 7 de abril de 2015

IDI NACIONAL – PORQUE FUNCIONA MENOS BEM.
Manuel Teles Fernandes
(2015)


Em finais de Fevereiro de 2015 os media nacionais deram voz a algumas das conclusões da COTEC sobre o investimento público nacional na investigação relacionada com a criação de produtos. De acordo com a análise feita aos resultados do investimento público feito durante o período de 2000 a 2012 nessa área, no montante de 643 milhões de euros, concluiu-se que o mesmo não teve o consequente e desejado retorno na criação de valor para a economia.
O investimento público tem dois eixos principais: (i) o apoio às universidades, centros tecnológicos e afins, nas áreas da investigação fundamental e aplicada e na qualificação cientifica de recursos humanos, e (ii) às empresas com actividades de IDI. A causa mais flagrante para o resultado apresentado pela COTEC é a desadequação do investimento com a realidade do país, nomeadamente o desalinhamento do mesmo com a actividade económica existente.
Esta indicação leva à necessidade de compreender, em mais detalhe, o que se passa, efectivamente, na economia real. Uma parte do investimento feito pelo erário publico foi canalizado para as empresas que desenvolvem actividades de IDI, por via dos diferentes programas de apoio ao desenvolvimento económico, co-financiados pela União Europeia.
Um dos resultados desse esforço foi a certificação de muitas empresas pela norma portuguesa NP4457 – Gestão da Investigação, Desenvolvimento e Inovação (IDI) – Requisitos do sistema de gestão da IDI. Na lista, disponibilizada na base de dados do IPAC (Instituto Português de Acreditação, Março 2015), identificam-se 164 organizações que obtiveram a certificação do seu sistema de gestão da IDI. É sobre estas empresas que incide um estudo cujos resultados serão objecto de publicação em forma de artigo, numa revista académico nacional, e do qual se extraiu o resumo que se segue.
As 164 empresas que constam na base de dados do IPAC, todas com certificação dos seus sistemas de gestão da IDI, foram sujeitas a uma análise detalhada por um painel pluridisciplinar de especialistas nas áreas da gestão pelo valor, da inovação, da economia e da qualidade, bem como em auditoria à norma da IDI. Para efeito dessa análise foi considerado o âmbito da certificação das empresas e as informações disponibilizadas pelas mesmas nos diferentes media de livre acesso ao público.
A análise aponta para que 26,6% das empresas assenta o seu principal esforço de inovação no desenvolvimento de produtos, 68,3% nos serviços que presta, e 5,5% nos seus próprios processos internos.
Da amostra total, apenas 2,4% das empresas apresenta claras evidências de que os seus processo de inovação assentam na criação de valor, por via da produção de produtos e serviços que são novos para o mundo, sendo este o nível mais elevado de inovação de acordo com a OCDE (Manual de Oslo 2005). Estes produtos criam novas curvas de valor, sendo muitas vezes completamente novos ou em tudo diferentes dos produtos existentes que substituem.
Somente uns insignificantes 0,6% da amostra apresenta soluções que podem ser consideradas de forma inequívoca como inovação que acrescenta valor ao produto, por via da adição da componente de valor intangível ao mesmo, sendo este indutor de alterações culturais, isto é, mudanças nos comportamentos dos consumidores.Os restantes 97,0% das empresas apresentam soluções que não passam de inovação de melhoria, ou seja, geradora de pequenas alterações ao produto ou serviço ou aos processos produtivos, de networking e de marketing. Este tipo de inovação provoca diferenciação nos produtos/serviços que são facilmente copiados pelos concorrentes, por isso de curta duração.
Na amostra não foi identificada nenhuma empresa que se posicionasse claramente como desenvolvendo inovação que leve à criação de produtos/serviços alternativos aos existentes, que ainda que se apresentem com desempenhos inferiores, são disponibilizados a preços muito mais baixos para os consumidores, atingindo a base da pirâmide dos últimos, com volumes de consumo muito superiores. Este tipo de inovação tem, geralmente, impactos relevantes na economia, o que não se verifica na amostra em estudo.
Constata-se que 98,8% das empresas da amostra se apresentam como utilizando tecnologia, com maior ou menor incidência na sua actividade de IDI, para criarem a inovação definida no âmbito da sua certificação. Destas, 1,8% desenvolve inovações tecnológicas com base nos resultados da investigação fundamental própria, transposta para a criação de novos produtos ou serviços para o mundo. 0,6% desenvolve inovação tecnológica com base em investigação aplicada, utilizando conhecimentos fundamentais da mesma ou doutras industrias, na criação de produtos que dão respostas a necessidades muito específicas de determinados nichos do mercado. Os restantes 96,3% das empresas limitam-se a adoptar ou adaptar tecnologias existentes para resolver problemas do mercado, produzindo produtos ou utilizando processos ligeiramente diferentes dos demais.
Se a inovação tecnológica está presente em quase todas as empresas, ainda que na esmagadora maioria delas esteja apenas ao nível da adopção de novas tecnologias, a inovação cultural está apenas presente numa única empresa, de forma inquestionável, representando 0,6% da amostra. A inovação cultural, no estrito âmbito desta análise, define-se pela adopção de novos comportamentos pelos consumidores, causado por ou usando como meio um novo produto.
Existirão muitas outras empresas no mercado, para além das que fazem parte da base de dados do IPAC, que desenvolvem inovação, por ventura com maior impacto do que a que é feita pelas empresas certificadas em IDI. Contudo, tendo em atenção a amostra analisada que corresponde a uma elite de empresas que obteve a certificação IDI, onde se encontram empresas de referência no mercado nacional, pode dizer-se que, efectivamente, o resultado da análise efectuada ao seu âmbito de certificação e aos outputs da inovação demonstrados confirma as conclusões da COTEC.
O facto de apenas uma reduzida parte da amostra produzir produtos inovadores é sinónimo dos limitados impactos que a nossa inovação tem na actividade exportadora nacional. Os serviços têm muitos mais constrangimentos relativamente à exportação do que os produtos, devido às suas características intrínsecas relacionadas com a não universalidade linguística, fiscal, legal e outras dos mercados externos.
A criação de valor, entenda-se criação de novo valor, por si muito mais susceptível de gerar mais valias do que a normal actividade reprodutiva de valor das empresas, surge como resultado de dois tipos de inovação: inovação tecnológica e inovação cultural. A primeira refere-se, principalmente, à criação de novas soluções tecnológicas e a segunda ao desenvolvimento de novos comportamentos de consumo e de uso. Dos resultados estatísticos da análise efectuada, verifica-se que apenas 2,4% das empresas da amostra possui inovação tecnológica e 0,6% possui inovação cultural que são potencialmente capazes de criar novo valor. Se considerarmos a representatividade da amostra no universo empresarial nacional, este valores percentuais tornam-se insignificantes para fazer com que a inovação feita internamente tenha um forte impacto na nossa economia.
O menos perfeito entendimento do que é inovação, de quais são as diferenças entre a dimensão tecnológica e a cultural, e de como o valor pode ser criado, acrescentado ou melhorado, leva a que muitos dos investimentos efectuados no passado, e mesmo no presente e no futuro, possa ser a causa próxima do fracasso apontado pela COTEC . Muito trabalho ainda existe por fazer para bem gerir o valor e a inovação em Portugal.


segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Momentos de Mudança.


A SIC passa às segunda um documentário sobre o país, intitulado “Momentos de Mudança”.
Hoje (15 de Outubro de 2012) o documentário foi sobre um empresário de segunda geração que teve de encerrar a sua pequena fábrica de confecção, já iniciada pelo seu pai quando voltou de Angola em 1975 para reiniciar a vida.
Verdadeira drama de quem é dono e gerente de um negócio em Portugal.
Para além das responsabilidades como gerente perante o fisco e outras autoridades governamentais, este empresário também tem vida própria e família, no caso específico esposa e dois filhos menores, o que lhe acarreta outras responsabilidade como pai, este homem é ainda descriminado negativamente ao não ter direito a subsídio de desemprego, infelizmente uma prerrogativa de todos os administradores e gerentes de empresas.
A história deste pai, responsável pela sua família, e empresário, responsável pelo sustento de muita gente, viu-se obrigado a fechar a empresa e a emigrar para a Alemanha, onde trabalha como empregado de um bar.
É esta a imagem do nosso Portugal, como repetidamente o mesmo disse.
Felizmente que a SIC teve o bom senso de mostrar o lado humano da situação e não o  lado politico, deixando este assunto à consideração de cada espectador.
De facto, ver quem fez o que pode para ajudar o país, criando emprego, pagando impostos, movimentando a economia, ser desprezado como um criminoso (esta é de resto a figura de estilo que o fisco aplica aos empresários em geral), obriga-nos a pensar se não seria melhor ser empregado (comparação de resto também feita pelo referido empresário durante o documentário), ou ainda melhor, empregado do Estado, porque essa é de resto a posição mais irredutível, até ver.
Acabe-se com os empresários, de micro e pequenas empresas, e acaba-se com a nossa economia. Entreguem tudo às grandes empresas, multinacionais e similares, e teremos um país sem economia própria e sem futuro.
Obrigado à SIC pela forma como apresentou a história.
Votos de muita sorte ao pobre do senhor, que deixou de fazer planos, porque a sua vida passou a uma questão de sobrevivência a milhares de quilómetros de casa e de toda a sua família.
Fica um alerta final para todos os outros que ainda por cá andamos a pagar as benesses de uma elite caduca e arrogante que continua a sugar o pouco sangue que nos resta.
Nunca se sabe qual o limite de sofrimento dos “miseráveis”. 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

À procura de um desígnio nacional


A auto-estima do nosso povo parece andar por níveis nunca antes conhecidos. A crise económica que se instalou depois de termos vivido uma época de fartura virtual, a pedofilia que eclodiu de entre os nossos tão brandos costumes, a criminalidade que continua a crescer por entre uma nossa tão declarada atitude pacifista enquanto a justiça teima em andar por campos longe da compreensão dos humildes, o desemprego que alastra por via da falta de competitividade do nosso tecido empresarial quando ainda reclamamos a ajuda eterna do governo por tudo e por nada, e muitas outras coisas, colocam a nossa auto-estima bem em baixo.

Então voltamos os nossos desejos para a conquista de feitos desportivos. O título de campeão Europeu, para muitos de nós, só podia ser nosso. Nem pensamos noutra possível saída. É preciso vir alguém dizer que “se nunca ganhamos nada, porque querem agora ganhar tudo?” para cairmos na realidade. Efectivamente, ganharmos qualquer coisa em termos desportivos é uma excepção e não a regra. E esta regra aplica-se a quase todo o resto. Não ganhamos nada desde os descobrimentos, em que a nossa influência cresceu muito mais do que aquilo para o qual estaríamos preparados. Daí para cá, só temos perdido, até Olivença por culpa de não a querermos recuperar. Depois ganhámos uma democracia mas, atendendo à instabilidade que a mesma nos trouxe em muitas áreas, até alguns pensam que era melhor como estávamos dantes. Não admira que o sentimento de fracasso esteja tão profundamente arreigado na nossa cultura.

Olhamos para o passado distante e vemos quão grandiosos eram os nossos lideres de então, olhamos para o passado recente e presente e só encontramos mediocridade, salvo raras excepções, e ainda ficamos mais deprimidos. Habituados a que nos digam o que fazer, quando da classe política e governante não vêm nada que se aproveite, sentimos que estamos à deriva, sem um desígnio que possamos interpretar e dar corpo.

Na realidade, esta falta de desígnio em todas as áreas da nossa vida enquanto país é assustador. Em termos geo-estratégicos, uns dizem que nos devemos voltar para a Europa, cada vez mais distante, enquanto outros dizem que o Atlântico é a nossa saída natural e é para aí que devemos olhar. Em termos económicos, alguns pensam que a industria ainda é a nossa solução, mas muitos dizem que temos de nos voltar para os serviços se queremos crescer. Mas serviços voltados para a Europa ou para o Atlântico? E conforme as opiniões continuam a evoluir relativamente a outros assuntos, as divergência aumentam.

Falta-nos liderança estratégico-política e estratégico-economica, pelo menos enquanto não aprendermos a pensar por nós próprios. Mas como podemos pedir aos outros aquilo que nós não conseguimos fazer? Isto aplica-se de cima para baixo e inversamente. Como podem os nossos políticos pedir que façamos grandes feitos quando eles não o conseguem? E como podemos nós pedir-lhes grande liderança quando também são feitos da mesma massa que nós? Resta-nos esperar que uma das raras excepções, que de vez em quando acontecem, se volte a repetir e, surja, do nada, um líder para este pequeno canteiro à beira mar fustigado.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Artigo Académico

Artigo académico para download gratuíto
http://www.scienpress.com/journal_focus.asp?main_id=55&Sub_id=IV&Issue=182

quarta-feira, 11 de maio de 2011

O que somos!

Isto vem a propósito do que somos.
Tenho seguido até agora todos os debates entre os líderes dos partidos políticos (e vão 3)
Hoje calhou entre o Passos Coelho e o Gerónimo de Sousa.
Ontem foi entre o "candidato José Sócrates" (o homem até fritava em seco quando o PP o tratava assim) e o "Dr. Paulo Portas" (o tal que ainda não tem programa. também para quê? o da troika, perdão, do triunvirato não chega?!)
Aparte esta introdução desnecessária, o que interessa é que durante o debate de hoje dei comigo a pensar que há 10 anos atrás eu teria "compreendido" (quer dizer, entendido o verdadeiro significado) pouco mais de metade da conversa (quero dizer, discussão).
A razão principal teria sido que para se entender estas coisas da economia (essa maldita ciência - que tem mais de falível do que de "certo") tem de se aprender (nem que seja à custa dos erros e de auto-estudo).
Ora, (desculpem-me todos esta minha próxima afirmação) a esmagadora maioria da população portuguesa ( e até mundial) não percebe nada de economia (até muitos dos próprios ditos economistas).
Assim, quando os políticos falam de economia, mesmo que sejam sérios e honestos nas suas afirmações (medo, medo...) a maioria da população "votante" não percebe patavina! isso, patavina, nada, mesmo nada!
Na verdade, ainda hoje nem sempre percebo certas teorias económicas, pelo menos a de certos políticos.
Mas estava eu a dizer, que hoje penso ter finalmente percebido porque o "povo" vota sempre contra os seus próprios interesses. A razão é "ignorância"!
Isso, ignorância! somos todos ignorantes em muitas coisas (o que faltava era sabermos tudo! nem 1% do conhecimento geral nós temos. Até parece que somos é "burros" e não ignorantes), mas em economia (a tal ciência estranha que ninguém entende mesmo) é por demais!
Assim, compreende-se que quando votamos pensamos em tudo menos no bem (económico) comum.
Para quê? desde que os outros paguem, queremos lá saber!
Isto vem mesmo a propósito de alguns dos comentários ao filme da Câmara Municipal de Cascais sobre Portugal para Finlandês ver e que tem sido criticado em vários blogs na internet.
Primeiro porque o que não está em causa não são as "inverdades" históricas (como pretendeu valorizar uma certa blogista autora). Porque o que não está em causa não é a história, os sucessos ou insucessos dos Portugueses (esse povo insignificante que até admira como ainda sobrevive há mais de oito séculos e meio e que já os seus antepassados nos tempos dos romanos "não se governava nem deixava governar"), mas sim o seu futuro.
Esse maldito futuro (sempre incerto, incógnito e imprevisível) que temos em discussão, que agora depende de um "insignificante" país chamado Finlândia, cujo passado em nada se aproxima das gloriosas descobertas marítimas que por nós foram conseguidas, poderá parecer pouco honroso para tão nobre povo.
Na verdade, este povo tem (e terá) sempre o futuro ( e governo) que merece.
Mas essa verdade não pode ser negada ao povo.
Essa verdade não pode ser escondida.
Essa verdade não pode ser manipulada.
Mais, essa verdade não pode ser "inverdade" porque se criou um "povo" que não compreende a mesma verdade.
Com tudo o que acabo de escrever, por mais paradoxal que possa parecer, quer dizer que o futuro é algo que cada um por si e o "povo" no seu todo escreve pelas suas próprias mãos.
Se no dia 5 de Junho, este povo a que pertenço acabar por escrever o que eu não quero para mim, resta-me afastar do mesmo.
Se o mesmo povo escrever o que eu quero para mim, então não tenho outra opção senão participar com tudo o que possa.
Ou se é, ou não se é! a opção (felizmente, somos livres para escolher) é nossa.
Aqui não há cobardias ou desistências. Temos de ser pragmáticos e objectivos. Temos de saber entender o nosso futuro, pessoal e colectivo.
Com tudo isto, quero dizer se este país ficar entregue, por vontade do povo, aos mesmos incompetentes (este é o termo técnico certo para quem não tem competência para fazer algo) a quem tem estado entregue nos últimos 6 anos, é porque este (futuro) é mesmo o governo que o povo merece, e a mim resta-me escolher o meu próprio futuro, por mais "cota" e "bota de elástico" que eu possa já ser.
Nota final: 20 séculos depois do "circo e pão para o povo" que os Romanos utilizavam para enganar o povo, hoje temos outras formas, por ventura mais sofisticadas, mas com o mesmo fim. Mas um dia, os "escravos" irão revoltar-se e quem saberá o que o futuro nos reserva.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

ADIVINHA-SE PARA ONDE VAI CAIR A ECONOMIA

Há mais de um ano atrás escrevi este texto, mas esqueci-me de o publicar (aparentemente).
Mas nunca é tarde, até porque não mudei de opinião.
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Hoje, Portugal decidiu pedir ajuda à Comunidade Europeia.
Na verdade, estamos falidos e sem dinheiro para pagar ordenados aos funcionários públicos ( e afins).
Esta e outras são as verdades que todos já sabemos. Existirão outras que nem imaginamos!
Contudo, o objectivo deste "post" é outro que analisar as causas da actual situação economicó-financeira-política deste país a naufragar!
Primeiro, todos podemos assistir em simultâneo e em todas as televisões o discurso do Primeiro Ministro que conseguiu explicar de forma exímia (como só um bom marketier ou vendedor consegue fazer) que a culpa deste pedido de ajuda à UE é dos outros (partidos) que recusaram o PEC4. A desculpa, ou a culpabilização dos outros por aquilo que foi o governo que fez (afinal quem é que governa há já seis anos?) foi o mote defendido e emocionalmente transmitido a todos os Portugueses (há excepções, felizmente) como só o nosso PM é capaz!
Depois ouvimos o líder do principal partido da oposição a tentar elevar o nível da discussão e a dizer qual a sua posição sobre a decisão em causa e a explicar a razão porque o seu partido apoia a decisão do governo (a oposição directa, não nos esqueçamos). O tom do discurso foi sempre pela positiva, e tentou transmitir uma mensagem de esperança e de luta apesar das dificuldade (afundamento total) em que nos encontramos.
A segunda resposta ao anúncio do governo foi do líder da oposição que ocupa a posição de extrema esquerda. De forma objectiva explicou o porquê do governo ter visto o PAC4 rejeitado bem como apenas três decisões que esse mesmo governo tinha tomado (já só me lembro de duas: compra dos submarinos e apoio ao BPN) tinham tido quatro vezes impacto no orçamento do que o valor colocado em causa pelo mesmo PAC4.
Demagogias à parte (e disso estamos fartos), o que interessa é o que os portugueses votantes compreenderam.
Primeiro, entenderam (ou pensaram entender) que o PM que tem sido um mártir da oposição e que tem feito tudo o que de melhor se poderia fazer para salvar o país, mas que se agora pediu ajuda (externa) à CE ou FMI (isso pouco interessa para a emoção de cada eleitor) foi porque a isso foi obrigado por outros.
Segundo, não entenderam nada do que o líder do principal partido da oposição disse (até parecia que estava a falar bem do governo, imagine-se) porque a linguagem demasiado elaborada e técnica (e até formal) que utilizou para tentar mostrar como estará preparado para enfrentar a situação terrível em que nos encontramos, está muito acima do entendimento do eleitor (cidadão) comum.
Finalmente, o líder do partido da oposição da extrema esquerda conseguiu de forma clara (não fosse o mensageiro exímio na manipulação da palavra) passar a mensagem com bastante objectividade como o governo tem esbanjado os nossos impostos de forma escandalosa. Mais, demonstrou (e parece mesmo que o deve ter conseguido) que não existe alternativa para além das opções de esquerda (quais são não o sabemos mas houve promessas de que serão desvendadas em breve)
Depois de todas estas análises rápidas e poucos profundas, pode-se compreender o porquê e o sentido de voto nas próximas eleições.
Tivessem os eleitores uma melhor compreensão da economia e dos factores que nos levaram à actual (e muito duradoura) crise (o que também inclui factores políticos), e não teríamos com toda a certeza decisões eleitorais que se irão, mais uma vez, manifestar "estupidamente" desastrosas para todos nós!

terça-feira, 5 de abril de 2011

OS DIREITOS GLOBAIS

O actual contexto global em que nos encontramos, que inclui esta longa crise económica que se arrasta desde a outra tal crise do sub-prime em 2007, as revoluções nem alguns países do Magrebe e outros do médio oriente na busca de mais democracia, o terramoto, tsunami e crise nuclear do Japão, em sobreposição a muitos outros problemas acumulados a nível económico e social deste mundo cada vez mais global, está a expor novas situações reivindicativas a vários níveis.
Enquanto por cá queremos empregos e bons ordenados, até porque a constituição da nação é justa e prevê que todos tenhamos essas oportunidades de forma efectiva, lá por fora os refugiados de muitas guerras e revoluções, sendo ou não nacionais dos países que estão envolvidos nessas mesmas guerras e revoluções reivindicam asilo noutros países mas com casa e trabalho.
Como é que tal é possível?
Facil! Nas últimas décadas temos tido políticos em todo o mundo que passaram esta mensagem global e que nos têm prometido aquilo que eles mais do que ninguém sabiam (senão foi assim, então eram mesmos burros) que era insustentável a longo prazo e impossível de durar suficiente para que nos esquecêssemos das suas promessas. Com isto, criaram também na mente de outros que tais benesses são ou poderão ser abrangentes a qualquer cidadão do mundo.
O sentimento global, de qualquer habitante em qualquer parte do mundo (haverá excepções que apenas servem para confirmar a regra), é que todos nós, indivíduos, temos direitos que devem ser satisfeitos (pelos outros), mas esquecemo-nos dos deveres porque ninguém soube explicar que direitos implicam deveres (um pequeno pormenor que serviu os propósitos políticos de muito boa gente).
Veja-se as notícias na televisão. Em todo o mundo as reivindicações são em barda, expressas por todos a quem é dada a oportunidade de as explanar e reclamar. Mas, já ouvimos os mesmos falar dos seus deveres pessoais? Claro que não.
Parece-me que o único dever que nos vão lembrando de vez em quando é que devemos "votar", pois esse é um dever cívico.
Esquecem-se, porém, esses mensageiros de nos dizer que cada voto "votado" é pago!
Sim, por cada voto que os partidos obtenham serão mais uns euros (ou outra qualquer moeda) que vão para os cofres desses partidos ou candidatos (pelo menos é assim por cá e outros países com sistemas eleitorais semelhantes ao nosso). Assim, até é de admirar que votar não seja obrigatório.
Pelo menos, esse seria mais um direito "estúpido" a satisfazer!

SERÁ QUE HÁ SOLUÇÃO?

Por vezes sou obrigado a pensar que vivemos num país sem "alvará" para o ser.
Temos por um lado um governo que teima em continuar com investimentos em obras públicas e a dizer que não necessita de ajuda externa.
Por outro temos os bancos a dizerem que não emprestam mais dinheiro ao Estado, aquele mesmo a quem pediram ajuda há uns tempos atrás (e conforme referido no post anterior).
Sabemos uma coisa: não temos solução se continuarmos no caminho que temos percorrido até agora.
Contudo, as posições (e interesses) políticas sobrepoem-se aos do país e as teimosias começam a ter alguns efeitos.
Não podemos viver a pedir dinheiro ao estrangeiro a 6 ou 12 meses sabendo que não vamos conseguir produzir sequer suficiente para pagar os juros.
Por outro lado, sabemos que a solução a curto e longo prazo vai ser dolorosa. Não nos podemos esquecer que as boas reformas que alguns beneficiários do Sistema Nacional de Segurança Social começaram a auferir depois do 25 de Abril estão a ser pagas com empréstimos que os netos desses mesmos beneficiários terão de pagar com juros elevadíssimos durante as próximas décadas.
Sim, décadas, é o tempo que todo este sacrifício vai durar.
E ainda existe gente que, estupidamente, insiste em mais do mesmo.
A solução para quem não queira fazer parte deste massacre é apenas um:sair do país, depressa!

segunda-feira, 4 de abril de 2011

AFINAL PARA ONDE VÃO OS JUROS?

Esta é uma questão que para os menos informados parece quase sem resposta. Se o Estado paga cada vez juros mais caros e por prazos mais reduzidos (chama-se a isto utilizar um garrote em vez de uma gravata), quem beneficia com isso?
Existe uma resposta muito simples: quem nos empresta o dinheiro (bancos e seus afins).
Mas então os bancos não andam todos aflitos?
Nem todos.
Os bancos portugueses têm nos últimos dois anos vindo a financiar-se junto dos BCE (Banco Central Europeu) para comprar dívida a curto e médio prazo ao Estado Português, sendo que nestas operações ganha o diferencial entre a taxa de juros que paga ao BCE e a que recebe do Estado Português.
Assim, uma da parte dos nossos impostos (aumentados para salvar a crise) estão a ir directamente para o salvamento dos bancos, depois de todos os "donativos" que o nosso governo já fez aos ditos, como por exemplo substituir o risco que os bancos detinham com o financiamento às empresas através de programas ditos de financiamento às PME (Financia e outros mais) que acabaram apenas por substituir crédito cujo risco pertencia aos bancos e que passou depois para o próprio Estado. Esses milhões injectados na economia de acordo com os dados e informações do governo para aumentar o investimento e a competitividade das PME só serviu para trocar responsabilidades e aliviar a exposição dos bancos ao risco e com isso poderem (ou tentarem) financiar-se externamente.
Contudo, como o petisco é apetitoso (enquanto a UE existir e der sinais de que segurará o Euro), também os bancos de outros países acabam por ficar com parte desse mesmo quinhão. Assim, em vez de diminuir a nossa dívida do Estado (interna e externamente) estamos sim a aumentá-la, o que vai fazer que as próximas gerações irão ter muito que produzir para pagar a dívida que lhes estamos a deixar.
Mas porque deixamos que isto aconteça?
Pela simples razão que se não o fizermos os bancos vão-se abaixo (leia-se, vão à banca rota), porque estão descapitalizados (entenda-se, emprestaram a quem não podia pagar de volta e ainda distribuíram enormes fortunas pelos seus gestores durante muitos anos como prémio dos "excelentes" resultados de gestão que obtiveram, ainda por identificar para muitos de nós excepto para os referidos beneficiários) e com essa subtil ameaça da sua possível ruptura e danos aos depositantes, o que pode causar a eliminação de biliões de euros do mercado (mais de 90% desse dinheiro é puramente virtual) e com isso a ruptura da própria economia.
Assim, para já, tornamo-nos escravos dos donos do capital (que nem terão assim tanto mas sob a ameaça de matar a economia vão ficando efectivamente cada vez com mais).
Nem os políticos (os fracos e sem visão) conseguem sair desta ratoeira.
Geralmente, é "estupidamente" nesses que a maioria dos eleitorados votam, tanto por cá como também lá por fora!

domingo, 3 de abril de 2011

(i)Lógica

Existem alturas em que tenho problemas com a lógica de certos actores da nossa sociedade, neste caso específico, da nossa classe política.
É do nosso conhecimento que iremos ter este ano de fazer pagamento de dívidas externas (estou a referir-me ao Estado ou Governo de Portugal) em Abril e em Junho.
Para qualquer humano menos iluminado, como eu, só poderia haver um entendimento e comportamento: ter já feito suficientes reservas de capital para pagar a quem se deve.
Ora, no caso do governo deste país (um amigo meu diz que o nós não temos alvará para ser país, mas ainda assim...), que não tem dinheiro nem para pagar os seus próprios custos operacionais (contas correntes com pessoal e outros) como vai então pagar a quem deve?
Fácil! vai pedir mais dinheiro emprestado ( a quem já deve, entenda-se)
Não fosse este gesto inconsciente e desresponsável já uma sombra sobre quem nos governa, ainda se atreve o mesmo governo ( será que é ou foi alguma vez isso ou parte disso?!) a dizer que irão pagar a taxa de juros que os mercados (entenda-se aqueles a quem se deve e aos quais para pagar não temos o dinheiro suficiente) vierem a exigir em vez de irmos pedir um empréstimo à "família" a uma taxa mais baixa.
Como poderia qualquer um de nós, cidadãos e votantes, gerir a nossa "casa" desta forma?
Primeiro, não tendo a preocupação de amealhar o suficiente para pagar a quem devemos e, segundo, indo pedir dinheiro emprestado a taxas de juros ainda mais altas do que poderíamos fazer se nos socorrêssemos dos amigos (refira-se que estes "amigos" são o FMI ou o FEFE, dos quais somos também parte integrante, ou seja, nós servimos para emprestar aos outros como a Grécia e a Irlanda mas a nossa família não serve para nos ajudar a nós próprios porque isso é uma afronta à nossa honra - aonde é que alguém como este governo se atreve a invocar o termo honra? só por despudor e tentativa de engano dos mais incautos)
O problema não é de quem nos (des)governa!
O problema é nosso, que vamos de ter de pagar esses juros altos, bem altos, que irão subir constantemente, e que irão incidir sobre empréstimos de curto prazo, apenas empurrando o problema ainda mais aumentado para daqui a um ano.
A estupidez não é de quem toma estas decisões. Não, porque o faz por razões que nada têm nada a haver com o bem do país.
A estupidez é mesmo de quem acredita em falácias.
Podemos concluir que apenas temos o que efectivamente merecemos!