Governar um país é como governar uma empresa ou mesmo a nossa casa.
O endividamento, quando utilizado para resolver questões de deficit causado pela diferença entre proveitos e custos, tem quase sempre uma forte implicação no futuro de quem o faz.
Se uma empresa, uma família ou mesmo um país utilizarem o endividamento como solução para eliminarem o deficit causado por uma situação corrente ou de contexto, mas que é resultante de uma situação sistémica, como por exemplo numa família, a perda de um emprego (corrente ou de contexto) mas por falta de competências (sistémica), o mais certo é que esse endividamento irá permanecer a longo prazo, porque a recuperação do emprego se adivinha difícil ou mesmo impossível. Neste caso, o melhor seria cortar imediatamente os custos para níveis suportáveis pelas receitas, o que nem sempre é viável de imediato.
O mesmo se passa com a governação dos países.
Neste actual contexto de crise global, em que temos assistido à redução do consumo da população e do investimento em geral, os governos têm vindo a sofrer fortes cortes nas suas receitas, devido à diminuição dos montantes cobrados pelos impostos sobre o consumo e o investimento.
Contudo, nos Estados com fortes políticas de apoio social às suas populações, os gastos com esses apoios e pelas mesmas razões contextuais da crise global, têm aumentado significativamente.
Temos assim que, por um lado os Estados estão a recolher menos impostos (redução da receita) e por outro estão a incrementar o apoio social (aumento da despesa), o que os obriga a utilizarem a ferramenta do endividamento, na forma de obrigações (títulos) e de outros veículos financeiros. Este endividamento é obtido no pressuposto de que será honrado na devida altura no futuro.
Se a situação que levou ao endividamento for de contexto e de curto prazo, o pagamento da dívida torna-se viável, na medida em que a recuperação da economia permitirá o rápido incremento das receitas (por via dos impostos).
Porém, quando um país utiliza o expediente do endividamento para resolver o problema de contexto, mas tem por detrás desse um outro que é sistémico, ou seja a falta de produtividade e competitividade que reduz a criação de valor e acumulação de riqueza, o pagamento desse mesmo endividamento torna-se doloroso e assume o carácter de um problema de longo prazo, possivelmente sem fácil solução à vista.
Quando a solução não vem do lado da receita, só poderá ser encontrada no lado da despesa, significando que o pagamento de tais dívidas irá ser feito pelo corte no consumo e pelo pagamento de elevados níveis de impostos das gerações vindouras, que terão de pagar a herança deixada pelo desequilíbrio causado no presente.
Assiste-se neste momento a este expediente por parte de muitos governos, que inequivocamente trará tremendas consequências num futuro próximo para as populações desses países, e que se prolongarão num futuro longínquo.
Muitas vezes, estupidamente por pura falta de visão ou excesso de egoísmo, pensamos apenas no presente e esquecemo-nos do futuro.
Sem comentários:
Enviar um comentário