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quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A SEGURANÇA E A ECONOMIA

A quem convém a insegurança?

A questão da segurança, de forma geral, é um dos temas da actualidade.

Tanto a nível laboral como a nível social, o tema desperta paixões e discussões acesas. Vejamos alguns dos aspectos específicos da segurança e como eles interferem na economia, como a segurança nos locais de trabalho, a segurança para os utilizadores de produtos ou serviços e a segurança pública.

 

Comecemos pela segurança no trabalho. Sabemos que condições de trabalho adequadas evitam acidentes, os quais têm um enorme custo para a economia. Primeiro, e infelizmente, muitas vezes pela perda de vidas, que para além do tremendo impacte social que a perda de vidas humanas possa ter, temos ainda que em termos económicos a perda de vida corresponde muitas vezes à perda de competências e capacidade produtiva difíceis de repor. Depois, e nos casos de acidentes de trabalho menos graves, o absentismo causado pelas falhas de segurança é a causa de uma enorme percentagem de perda de produtividade, sendo algumas indústrias, como a construção, péssimos exemplos. Os custos para a sociedade são enormes, tanto com a perda de capacidade produtiva como com o restabelecimento das condições e aptidões das pessoas para o trabalho.

Desta forma, a legislação criado pelos Estados pretende eliminar as fontes ou causas  dos acidentes de trabalho. Porém, existem casos em que os requisitos impostos às empresas para cumprimento da legislação sobre segurança no trabalho são tão exigentes que asfixiam as empresas em termos da sua própria produtividade e rentabilidade. O problema para as empresas que têm de despender dinheiro para garantir a segurança no trabalho dos seus trabalhadores é que os seus clientes não valorizam esses custo. O problema para nós consumidores é que não queremos pagar os custos adicionais com algo que não acrescenta valor ao que compramos. A pressão sobre o preço que os mercados colocam nos produtos e nos seus fabricantes é tão grande que muitas vezes estes últimos se vêem obrigados a prescindir ou evitar as questões da segurança no trabalho, deslocando os seus centros de produção para regiões ou países em que a legislação é mais branda ou mesmo inexistente. Assim, podemos acabar por prejudicar potencialmente a economia de um país com legislação sobre segurança muito apertada. Por outro lado, a não existência de regras que contribuam para a mitigação dos efeitos nefastos da insegurança no trabalho também trás enormes prejuízos para a sociedade em geral.

 

O segundo aspecto da segurança está relacionado com a segurança dos utilizadores. O prejuízo ou danos que um produto ou serviço possa causar aos utilizadores é uma das maiores preocupações dos fabricantes, e também dos Estados. Os primeiros temem as consequências que culpas imputáveis aos seus produtos ou serviços possam trazer, geralmente traduzidas em enormes custos em indemnizações por danos causados e na perda da confiança do mercado. Os Estados tentam evitar os custos sociais que tais falhas de segurança possam trazer para a sociedade, mas também defender os interesses dos seus constituintes e aumentar os graus de confiança e de fiabilidade nos seus produtos de forma a facilitar a sua venda interna e externa.

A legislação criada para o efeito pelos diferentes Estados pretende, assim, eliminar situações de potenciais acidentes relacionados com a segurança dos utilizadores, aplicando-a a produtos (como por exemplo a marcação CE) e a serviços (como por exemplo a higiene e segurança alimentar).

O cumprimento das legislações trás sempre um aumento dos custos de produção para os fabricantes de produtos (como os airbags nas viaturas) e nos serviços (os requisitos higiénicos nos restaurantes).

Se nalguns casos os utilizadores beneficiam automaticamente com as questões de segurança em produtos e serviços, como no caso dos dois exemplos anteriores, noutras situações o valor que os utilizadores percepcionam não sofre alteração.

A mudança abrupta de legislação serve muitas vezes para criar barreiras à entrada de produtos externos ou para eliminar concorrência, criando assim protecções a determinadas indústrias, sendo que existe em muita da legislação existente nos mais diversos Estados objectivos que são claramente de carácter económico.

 

Finalmente, a segurança pública têm vários aspectos intrínsecos que podem ser analisados sob o ponto de vista económico. Para os cidadãos a segurança é um dos aspectos vitais, por razões obvias. A falta de segurança força as pessoas e restringirem as suas actividades a ambientes seguros, como as suas saídas a restaurantes, o que afecta economicamente quem consome  e quem vende. Mas, ainda ao nível das populações, a insegurança pode forçar a consumos ou gastos que não acrescentam valor para o utilizador. O alarme em casa ou no automóvel não trás nenhum conforto ou benefício extra, a não ser a possibilidade de evitar a possibilidade de roubo. Mas, não fosse a insegurança existente, isto é, a possibilidade de alguém cometer um crime contra os bens pessoais de alguém, ninguém necessitaria de despender dinheiro em equipamentos anti-roubo. Contudo, o facto de que existem pessoas dispostas a adquirir equipamentos de segurança anti-roubo cria imediatamente um mercado que é rapidamente satisfeito por fabricantes e fornecedores dos tais equipamentos.

Desta forma, temos que uma percentagem da população acaba por perder parte da sua riqueza para benefício de outros (o mercado) porque existem condições de insegurança pública que obrigam a tal, porque a relação entre o custos do investimento em equipamentos de segurança anti-roubo e valor do que poderia potencialmente ser roubado ainda lhes é favorável, para além das questões emocionais, também elas com potencias impactes económicos.

Esta situação agrava-se quando se trata de segurança pessoal. Como a protecção das pessoas é mais difícil de se conseguir do que as dos bens, tanto pelo risco inerente como pelo custo dos meios a utilizar, a segurança das pessoas é a que mais impactes causa na economia. A insegurança de se sair à rua reduz o consumo. Para evitar essa redução no consumo das populações, criam-se bolsas seguras onde a insegurança é eliminada, como zonas públicas altamente policiadas ou protegidas por segurança privada. Contudo, este tipo de acção trás custos adicionais à sociedade ou a quem explora um negócio e paga para ter segurança privada para proteger os seus clientes. Mais uma vez, o valor acrescentado para o consumidor, a não ser o da própria segurança pessoal, é nulo. Contudo, a necessidade de segurança das pessoas cria um mercado de serviços que, potencialmente, é lucrativo sem acrescentar valor à sociedade, que não o inerente apenas à segurança pública.

 

A segurança, nos seus diferentes aspectos, parece ser um bom negócio para muita gente. Mas, a que custo para a sociedade em geral ou para muitos indivíduos em particular?

Utilizam-se recursos que poderiam ser utilizados noutras áreas como a saúde e a educação, não fosse a exploração generalizada do medo que o ser humano possui e da falta de respeito pela vida, integridade física e bens dos outros. Economicamente parece fazer muito mais sentido se investíssemos, colectiva e individualmente, na educação dos princípios de cidadania a toda a população e na criação de condições de vida que eliminassem a necessidade de obter bens por outros meios que não os “societalmente” aceites como certos, neste caso, o trabalho.

A segurança é ainda também um tema “estupidamente económico”! E a quem convirá mais?

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