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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

COMPETÊNCIAS vs QUALIFICAÇÕES

A riqueza de um país é o somatório de todo o valor criado ou acrescentado com que cada individuo possa contribuir para a sociedade.

Semear uma semente e depois colher muito mais sementes ou frutos da planta que nasceu, que serão transaccionados por outros produtos ou por uma qualquer outra moeda de troca, será a forma mais simples e primitiva de criar valor, ou numa linguagem mais corrente, de acrescentar valor.

Criar uma ferramenta que pode semear muitas sementes ou colher muitos frutos de forma mais eficiente é outra forma de criar valor, por ventura mais vantajosa do que a primeira porque permite que a sua repetida utilização  contribua para a repetição da criação de valor.

Criar uma obra de arte é também uma forma de criar valor, ainda que com base na intangibilidade da mesma. Neste caso, o valor acrescentado poderá ser muito maior do que nos dois primeiros casos.

Desenvolver um novo conhecimento, científico ou não, que possa ser utilizado por outros indivíduos de maneira a criarem mais valor de forma repetida é ainda, quiçá, o processo com maior potencial para criar valor e riqueza colectiva.

Para que os indivíduos possam semear sementes, criar máquinas ou obras de arte e desenvolver novos conhecimentos, deverão possuir as “competências” devidas e necessárias.

Competência, numa definição muito livre, é o somatório do saber ou ter conhecimento sobre algo, mais o saber fazer algo aplicando esse conhecimento e, ainda, ter a atitude certa para o fazer da forma correcta.

É o desenvolvimento das competências que levam o homem e as sociedade a evoluir e a crescer. Sem aumento de competências será difícil que qualquer sociedade consiga fazer algo de diferente daquilo que já faz.

No processo de aprendizagem para se obter competências, utiliza-se a progressiva qualificação das pessoas como forma de se aquilatar da sua, supostamente, aquisição de competências. Assim, ter uma qualificação é na maioria das situações na sociedade sinónimo de ter também a correspondente competência. A licenciatura de um jurista deverá significar que conhecerá as leis e deverá ter a competência para as aplicar em defesa ou acusação de uma qualquer situação prevista nas mesmas leis. A obtenção da carta de condução deverá significar a existência da competência para conduzir um determinado tipo de veículo.

Porém, sabemos que nem sempre isto é verdade. Qualificação não significa necessariamente competência.

Este é um erro que poderá ser fatal para a economia. A escolaridade obrigatória até certos níveis de qualificação, como o 12º ano, não faz dos nossos jovens pessoas com mais competências. A atribuição de diplomas de equivalência a níveis de escolaridade por via da experiência não dá às pessoas competências que possam ser utilizadas para produzir mais valor.

O título, tal como o hábito para o monge, não faz de ninguém médico, arquitecto, engenheiro ou gestor.

A economia só progride se as pessoas, independentemente dos seus títulos e qualificações académicas, tiverem vastas competências que possibilitem a criação de elevado valor, por via da criação de novas soluções e de novos conhecimentos, esses sim potenciadores de desenvolvimento económico.

O valor acrescentado é tanto maior quanto maior for a dificuldade em produzir algo, quer seja produto, serviço ou combinação de ambos. E a maior dificuldade exige mais elevadas competências. Sem essas, nunca conseguiremos criar riqueza que possa ser distribuída e utilizada na criação de uma economia forte.

Infelizmente, e pior ainda, estupidamente, as políticas de qualificação nem sempre servem para o desenvolvimento e criação de competências. Por certo, não nos servirá de muito sermos todos doutores e engenheiros e não termos as competências necessárias nem para fazer nem para criar nada.

2 comentários:

  1. Caro Manuel Fernandes,
    O remate do seu texto é bem verdadeiro.
    permita-se realçar o seu parágrafo seguinte:
    "A escolaridade obrigatória até certos níveis de qualificação, como o 12º ano, não faz dos nossos jovens pessoas com mais competências. A atribuição de diplomas de equivalência a níveis de escolaridade por via da experiência não dá às pessoas competências que possam ser utilizadas para produzir mais valor."
    Não basta aos nossos jovens andarem na escola, os pais querem que eles estudem e progridam, os professores também...mas os nossos jovens têm de querer o mesmo também. Há uma diferença entre ter força de vontade e ter vontade de fazer força. Talvez haja uma diferença semelhante entre ter qualificações e ter competências.
    Na vida real os adultos têm de assumir responsabilidades profissionais, ou cargos, como lhe queiram chamar, contudo se forem preenchidos por pessoas que têm qualificações e não têm competências para os desempenhar...a performance / desempenho dessas responsabilidades têm tendência para ser pobre. Ao invés, se os mesmos cargos forem desempenhados por quem tem as competências, mesmo não tendo as qualificações as possibilidades de ter um bom desempenho / performance são bem maiores.
    Deixo-lhe aqui um exemplo que conheço, o melhor concessionário do grupo automóvel SIVA do ano passado em Portugal, tem um gestor que se formou em...Educação Fisíca.
    António Ruivo

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  2. Manuel,
    A vaidade do diploma, é uma "inquietação", seria excelente se a vaidade da "obra feita", tivesse a mesma magnitude.
    :-)

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