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sábado, 12 de setembro de 2009

O MELHOR NEGÓCIO DO MUNDO

Quando se produz algo a partir de quase nada.

Em qualquer negócio que produza um produto ou serviço, teremos sempre de considerar a existência de entradas (inputs) e de um qualquer processo que transforme as entradas em saídas (outputs). Assim, quem quiser transformar sementes em produtos agrícolas, terá de tratar a terra, semear as sementes, adubar, regar, curar e colher o produto final. A este processo de transformar sementes em produtos agrícolas, que serão vendidos por um montante superior à soma do custo das sementes e do custo da mão de obra e dos outros produtos utilizados, chama-se “criação de valor”. O mesmo se passa em qualquer indústria transformadora onde se utiliza matéria-prima, acessórios, produtos de consumo e mão de obra, bem como em qualquer serviço onde se utiliza conhecimento, mão de obra e produtos de consumo.

No sector financeiro é suposto que a principal “matéria prima” utilizada seja o dinheiro, em notas e moedas. Seria suposto que os bancos angariassem a sua “matéria prima” principal, o dinheiro, através da cativação de depósitos em moeda feitos por clientes, a quem pagariam uma determinada “renda” (juro) pela utilização do dinheiro e o utilizassem para emprestar a outros clientes por uma “renda” (juro) maior, fazendo da diferença do juros pagos e dos juros recebidos o seu lucro grosso. Naturalmente que a este meio de criar “valor acrescentado” há que adicionar os proveitos que advém da cobrança de custos dos serviços prestados, como emissão de cartões e manutenção de contas.

De facto, não acontece assim tão literalmente. Principalmente no que se refere à utilização da matéria prima utilizada, o dinheiro. Por cada euro depositado os bancos emprestam muitas vezes mais euros, chegando a onze vezes e meia no caso do mercado nacional.

Em nenhuma indústria se consegue multiplicar as entradas (inputs) de forma tão miraculosa. De uma dada quantidade de matéria prima não se consegue retirar mais do que aquela que existe. No caso da indústria financeira, o milagre da multiplicação é uma realidade. Por isso, os bancos poderiam até emprestar dinheiro a juros mais baixos do que aqueles que pagam aos depositantes que conseguiriam ainda produzir lucros.

A utilização abusiva deste mecanismo de criação virtual de dinheiro levou a muitos exageros, em que muitos participantes e no processo foram beneficiados com prémios e salários exorbitantes retirados de onde não existe “nada”. Com a crise criada nos EUA pelo sub-prime, e pelas implicações do mesmo nas bolsas de todo o mundo, os bancos viram-se de repente sem a possibilidade de recuperar o dinheiro virtual que tinham injectado na economia, sob o qual tinham assumido compromissos, mas para os quais já não possuíam reservas suficientes para honrar esses mesmos compromissos.

A injecção de capital que os governos fizeram nos mercados financeiros foi para tapar esses buracos que ameaçavam os bancos de ruptura de “stock” de capitais para cumprir com os seus compromissos perante os clientes depositantes.

Como pode então um negócio que produz “outputs” sem utilizar “inputs” vir a ter problemas? A resposta é simples: retira-se do negócio mais do que aquilo que ele produz.

A aparente facilidade com que se criava, e ainda se cria, dinheiro vindo do nada fez com que alguns intervenientes pensassem que o processo não tinha limites.

A regulação e a fiscalização deverão ser revistas para que abusos como os que aconteceram durante as últimas décadas não possam acontecer no futuro com impactes nefastos na economia em geral e no bolso dos contribuintes em particular.

 

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