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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A SAÚDE OU FALTA DELA E A ECONOMIA

A SAÚDE E A ECONOMIA – diferenças e semelhanças entre a gripe A e o tabagismo.

O mundo está num total desespero com a gripe A (ou H1N1, ou suína).

Os governos em geral, especialmente os que têm capacidade económica e financeira para isso, encomendam vacinas aos milhões.

De repente, os quadros de pessoal médico e de apoio foi reforçado para efeitos de contenção da pandemia, por via da mobilização de quadros fora do activo ou do uso de horas extraordinárias.

Os medicamentos para curar, supostamente, a gripe são fabricados e vendidos em barda, enchendo as farmácias privadas e hospitalares.

As instalações e os equipamentos médicos e de suporte de vida são reforçados em grandes quantidades, para suportar o potencial crescimento no números de utentes.

A comunicação com o público para avisar dos sintomas, medidas a tomar e efeitos da gripe é feita por nos media (imprensa, rádios e televisões), na internet, por SMS,  e em panfletos distribuídos por vários meios.

As medidas de prevenção, descritas em enormes cartazes e produtos higiénicos de prevenção, são distribuídos por tudo o que é lugar público e privado com frequência do grande público.

Até agora, todas esta medidas implicam um enorme esforço financeiro da sociedade em geral mas, principalmente, dos Estados em particular. O dinheiro para suportar todas estas medidas corre a jorro para as mãos dos fabricantes e distribuidores de produtos e equipamentos que estão muito longe de se poderem considerar commodities, ou seja, de custo democratizado. Antes pelo contrario, a sua maioria são verdadeiros Premium, de custo elevados para quem os quer adquirir e de margens enormes para quem os fabrica e transacciona. Pelo caminho, empresas que desenvolvem actividade de comunicação e distribuição da informação também ganham a sua quota parte na “desgraça geral”.

Tudo isto para se chegarmos, até à data, à conclusão de que temos umas centenas de milhar de infectados em todo o mundo (quase três mil em Portugal) e menos de duas mil mortes causadas pela doença em todo o mundo (felizmente, ainda zero em Portugal). Preocupante? Naturalmente! O quer que seja que implique a perda de vidas humanas justifica plenamente qualquer esforço da sociedade. Contudo, o movimento criado para conter a doença ou para a eliminar, sem grandes resultados do ponto de vista dos números, criou um grande negócio à volta da nova gripe.

 

Mudemos de assunto e falemos do tabagismo. Comecemos pelos números: em muitos países a percentagem de fumadores ultrapassa os trinta porcento; o número de mortes directamente causadas pelo tabaco, e não indirectamente como na maioria dos casos da gripe A,  é de cinco milhões e quatrocentos mil por ano em todo o mundo. Sim, morre em todo o mundo e por ano o equivalente a metade da população portuguesa. Adicionando os enormes danos causados na população e na economia por doenças derivadas do tabagismo, estaremos a falar de vastos prejuízos para a sociedade, não só a nível económico mas também social. Contudo, o esforço feito para salvar vidas das garras infernais do tabaco parece ser mero divertimento quando comparado com o que é feito para a Gripe A. O Esforço feito para dissuadir as populações de fumarem é nulo ou insignificante e sempre inferior ao que é feito no incentivo ao tabagismo pelas tabaqueiras. A procura de soluções alternativas ao vício criado pelo tabaco são infrutíferas na sua maioria e apenas tentam explorar um nicho de mercado que pretende dominar o vício, ainda que com muito pouca convicção.

O consumo de tabaco, para além dos circuitos produtivo e comercial inerentes ao mesmo, é também um forte factor económico para os Estados por via de impostos de elevada percentagem. Algumas estatísticas apresentam números que pretendem demonstrar que existem casos em que as receitas do Estado são inferiores aos custos suportados pelo mesmo Estado e pela restante sociedade no tratamento de doenças causadas pelo tabaco e na recuperação das perdas de vidas e de capacidades e competências que advêm do consumo do tabaco. Contudo, e apesar dos elevados impostos, o consumo mundial de tabaco continua a aumentar e os circuitos produtivos e comerciais a verem crescer os seus lucros. O tabaco e as doenças que o mesmo provoca parecem ser também um grande negócio.

 

Assim, da comparação entre os critérios utilizados pelos Estados e sociedade no combate à gripe A e à mortalidade causada pelo tabaco podemos dizer que no primeiro caso se consomem tremendos recursos para evitar contágios e preservar vidas humanas e no segundo caso se guardam os recursos para mitigar os efeitos do tabaco quando já pouco há a fazer, permitindo contudo que todos os dias sejam infectados centenas de milhar ou mesmo milhões de jovens pelo tabagismo.

Para justificar os gastos no controlo da Gripe A, a prevenção é a palavra chave. Porém, o mesmo princípio não é utilizado para prevenir o vício do tabaco.

A grande diferença é que o tabaco, em todo o seu circuito de produção, distribuição e mitigação, deixa lucro a muitos agentes, pelo que a sua perpetuação é garantia de lucros continuados e a gripe A só poderá distribuir lucros se se utilizar a fase da prevenção para gerar negócio, porque depois da população humana criar defesas para a mesma desaparece a oportunidade.

O facto é que qualquer morte provocada pela gripe A é merecedora da maior publicidade e divulgação por todos os órgãos de comunicação, em todo o mundo. Mas a perda de cerca de quinze mil vidas por dia causadas pelo tabaco não merece a menor preocupação de ninguém, nem da sociedade, nem dos órgãos de comunicação, nem dos Estados.

Mais uma vez, a economia estupidamente dita os comportamentos da sociedade.

1 comentário:

  1. Agradeço o teu blog.

    O segredo, são os pequenos e simples aspectos das coisas.

    Não vale a pena longas e complexas ideias luminosas para nos encandearem e não deixar ver a as coisas com clareza.

    Continua que gosto e vou estar atento.


    Abraço,

    Miguel Pereira de Melo (TST)

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