A auto-estima do nosso povo parece andar por níveis nunca antes conhecidos. A crise económica que se instalou depois de termos vivido
uma época de fartura virtual, a pedofilia que eclodiu de entre os nossos tão
brandos costumes, a criminalidade que continua a crescer por entre uma nossa
tão declarada atitude pacifista enquanto a justiça teima em andar por campos
longe da compreensão dos humildes, o desemprego que alastra por via da falta de
competitividade do nosso tecido empresarial quando ainda reclamamos a ajuda
eterna do governo por tudo e por nada, e muitas outras coisas, colocam a nossa
auto-estima bem em baixo.
Então voltamos os nossos desejos para a conquista de
feitos desportivos. O título de campeão Europeu, para muitos de nós, só podia
ser nosso. Nem pensamos noutra possível saída. É preciso vir alguém dizer que
“se nunca ganhamos nada, porque querem agora ganhar tudo?” para cairmos na
realidade. Efectivamente, ganharmos qualquer coisa em termos desportivos é uma
excepção e não a regra. E esta regra aplica-se a quase todo o resto. Não
ganhamos nada desde os descobrimentos, em que a nossa influência cresceu muito
mais do que aquilo para o qual estaríamos preparados. Daí para cá, só temos
perdido, até Olivença por culpa de não a querermos recuperar. Depois ganhámos
uma democracia mas, atendendo à instabilidade que a mesma nos trouxe em muitas
áreas, até alguns pensam que era melhor como estávamos dantes. Não admira que o
sentimento de fracasso esteja tão profundamente arreigado na nossa cultura.
Olhamos para o passado distante e vemos quão grandiosos
eram os nossos lideres de então, olhamos para o passado recente e presente e só
encontramos mediocridade, salvo raras excepções, e ainda ficamos mais
deprimidos. Habituados a que nos digam o que fazer, quando da classe política e
governante não vêm nada que se aproveite, sentimos que estamos à deriva, sem um
desígnio que possamos interpretar e dar corpo.
Na realidade, esta falta de desígnio em todas as áreas da
nossa vida enquanto país é assustador. Em termos geo-estratégicos, uns dizem
que nos devemos voltar para a Europa, cada vez mais distante, enquanto outros
dizem que o Atlântico é a nossa saída natural e é para aí que devemos olhar. Em
termos económicos, alguns pensam que a industria ainda é a nossa solução, mas
muitos dizem que temos de nos voltar para os serviços se queremos crescer. Mas
serviços voltados para a Europa ou para o Atlântico? E conforme as opiniões
continuam a evoluir relativamente a outros assuntos, as divergência aumentam.
Falta-nos liderança estratégico-política e
estratégico-economica, pelo menos enquanto não aprendermos a pensar por nós
próprios. Mas como podemos pedir aos outros aquilo que nós não conseguimos
fazer? Isto aplica-se de cima para baixo e inversamente. Como podem os nossos
políticos pedir que façamos grandes feitos quando eles não o conseguem? E como
podemos nós pedir-lhes grande liderança quando também são feitos da mesma massa
que nós? Resta-nos esperar que uma das raras excepções, que de vez em quando
acontecem, se volte a repetir e, surja, do nada, um líder para este pequeno
canteiro à beira mar fustigado.